
Mês passado levantei um ponto sobre a polêmica de flexibilização do horário da Voz do Brasil. Pois bem, desde então tenho me dedicado a ouvir com boa vontade o Jornal oficial. E tenho de admitir que algumas informações são interessantes e "as vezes" a matéria quando coloca mais de um ponto de vista, não só aquele o do deputado autor do projeto, fica boa.*
Foi esse o caso da reportagem do jornal da câmara de hoje (15/09/2010) que apresentou a polêmica do deputado José Airton Cirilo (PT-CE). Que apontou um argumento bastante escutado no senso comum, de que os radares de trânsito para controle da velocidade ficam escondidos em pontos estratégicos para gerar máxima arrecadação e não para educar.
Sim, já cansei de ouvir dos taxistas que é uma sacanagem colocar radares escondidos e em pontos de descida onde a velocidade é maior. Eu mesmo, que gosto de aproveitar descidas para economizar gasolina, não gosto deles. E sim, uma empresa com objetivo de lucro vai colocar radares que maximizam receita.
O projeto do deputado é de que não haja nenhum radar sem a referida sinalização. Pode haver radar desde que sinalizados. Bem, o jornal trouxe o contraponto do prof. Paulo César Marques da Silva da engenharia civil e ambiental da UnB. O ponto contrário é o de que esse projeto encara o radar como mero redutor de velocidade, uma espécie de "quebra-molas" ou contrle eletônico de velocidade, a sinalização do local faria com que os motoristas reduzissem apenas ali no ponto.** O prof. bem lembrou que o radar tem função de fiscalizar o trânsito e de que a velocidade vale para toda a via. E pensando dessa forma, o local onde o radar está é indiferente, pois os motoristas deveriam trafegar dentro do limite da via durante todo o trajeto.
Mas como todo motorista observador deve saber, o que ocorre com os radares de aviso é que a maioria dos motoristas só diminuem a velocidade na presença do radar, quem gosta de correr pisa no acelerador logo depois de passar o "pardal" e até os que andam na velocidade mediana aceleram um pouco. O que ocorre aí não é tanto um problema de onde está um radar, mas sim qual é a velocidade de trafego que se impôe na via.
Há vias de 60Km/h que se pode desenvolver com segurança a 70Km/h. E em alguns casos é possível encontrar vias em que o limite máximo está muito acima daquele que seria seguro A pergunta interessante é: seria viável em termos de tempo andar sempre a 60Km/h nas vias viscinais de pista dupla ou tripla? Em muitos casos as pessoas parecem concluir que não, e então desenvolvem uma velocidade um pouco maior a maior parte do tempo.
Em Brasília, um bom exemplo é a L5. A L5 é um samba do criolo doido, tem trechos em que o limite está visivelmente acima do que seria bom para a segurança e em outros que está visivelmente abaixo. Os eixinhos são também bons exemplos, creio que quase metade dos motoristas desenvolve ali velocidade acima de 60Km/h. No eixo munumental (seis pistas e velocidade de 60Km/6) e nas vias para o Guará I e II, Aguas Claras e demais pontos, nem se fala.
O que cabe, então, para as vias e radares é adotar limites de velocidades flexíveis de acordo com cada trecho. Isso vai contra o Código Nacional de Trânsito, que tem uma lógica própria para os limites de velocidade em cada tipo de via. Estradas, avenidas principais, viscinais, alamedas, etc... Mas o que ocorre é que esses limites estão ultrapassados. A estatística e a tecnologia podem nos ajudar muito nesse quesito de estabelecer a velocidade mais apropriada.
O que a sociedade tem que estabelecer é qual o limite de velocidade julga tolerável e qual é o limite do muito arriscado. Imagine que vamos observar 1.000 carros durante uma hora em um trecho sem radar e com fluxo normal do eixo L em Brasília. Bom, eu criei um processo gerador de carros baseado em um Poison com média 60Km/h e apliquei um pequeno distúrbio, considerando um pequeno grupo de 1% que gosta de dirigir a uma média de 90Km/h.
Em uma das realizações, o motorista que passou mais lento obteve uns 32 Km/h e o mais rápido passou a quase 90Km/h (devia estar pensando que estava no eixão). O gráfico abaixo mostra o número de carros em cada segmento.
Foi esse o caso da reportagem do jornal da câmara de hoje (15/09/2010) que apresentou a polêmica do deputado José Airton Cirilo (PT-CE). Que apontou um argumento bastante escutado no senso comum, de que os radares de trânsito para controle da velocidade ficam escondidos em pontos estratégicos para gerar máxima arrecadação e não para educar.
Sim, já cansei de ouvir dos taxistas que é uma sacanagem colocar radares escondidos e em pontos de descida onde a velocidade é maior. Eu mesmo, que gosto de aproveitar descidas para economizar gasolina, não gosto deles. E sim, uma empresa com objetivo de lucro vai colocar radares que maximizam receita.
O projeto do deputado é de que não haja nenhum radar sem a referida sinalização. Pode haver radar desde que sinalizados. Bem, o jornal trouxe o contraponto do prof. Paulo César Marques da Silva da engenharia civil e ambiental da UnB. O ponto contrário é o de que esse projeto encara o radar como mero redutor de velocidade, uma espécie de "quebra-molas" ou contrle eletônico de velocidade, a sinalização do local faria com que os motoristas reduzissem apenas ali no ponto.** O prof. bem lembrou que o radar tem função de fiscalizar o trânsito e de que a velocidade vale para toda a via. E pensando dessa forma, o local onde o radar está é indiferente, pois os motoristas deveriam trafegar dentro do limite da via durante todo o trajeto.
Mas como todo motorista observador deve saber, o que ocorre com os radares de aviso é que a maioria dos motoristas só diminuem a velocidade na presença do radar, quem gosta de correr pisa no acelerador logo depois de passar o "pardal" e até os que andam na velocidade mediana aceleram um pouco. O que ocorre aí não é tanto um problema de onde está um radar, mas sim qual é a velocidade de trafego que se impôe na via.
Há vias de 60Km/h que se pode desenvolver com segurança a 70Km/h. E em alguns casos é possível encontrar vias em que o limite máximo está muito acima daquele que seria seguro A pergunta interessante é: seria viável em termos de tempo andar sempre a 60Km/h nas vias viscinais de pista dupla ou tripla? Em muitos casos as pessoas parecem concluir que não, e então desenvolvem uma velocidade um pouco maior a maior parte do tempo.
Em Brasília, um bom exemplo é a L5. A L5 é um samba do criolo doido, tem trechos em que o limite está visivelmente acima do que seria bom para a segurança e em outros que está visivelmente abaixo. Os eixinhos são também bons exemplos, creio que quase metade dos motoristas desenvolve ali velocidade acima de 60Km/h. No eixo munumental (seis pistas e velocidade de 60Km/6) e nas vias para o Guará I e II, Aguas Claras e demais pontos, nem se fala.
O que cabe, então, para as vias e radares é adotar limites de velocidades flexíveis de acordo com cada trecho. Isso vai contra o Código Nacional de Trânsito, que tem uma lógica própria para os limites de velocidade em cada tipo de via. Estradas, avenidas principais, viscinais, alamedas, etc... Mas o que ocorre é que esses limites estão ultrapassados. A estatística e a tecnologia podem nos ajudar muito nesse quesito de estabelecer a velocidade mais apropriada.
O que a sociedade tem que estabelecer é qual o limite de velocidade julga tolerável e qual é o limite do muito arriscado. Imagine que vamos observar 1.000 carros durante uma hora em um trecho sem radar e com fluxo normal do eixo L em Brasília. Bom, eu criei um processo gerador de carros baseado em um Poison com média 60Km/h e apliquei um pequeno distúrbio, considerando um pequeno grupo de 1% que gosta de dirigir a uma média de 90Km/h.
Em uma das realizações, o motorista que passou mais lento obteve uns 32 Km/h e o mais rápido passou a quase 90Km/h (devia estar pensando que estava no eixão). O gráfico abaixo mostra o número de carros em cada segmento.
Nessa situação a velocidade média foi realmente de 60.1Km/h, a mediana ficou aí perto e o desvio padrão em torno de 8Km/h. O interessante é a sociedade decidir a quem deve punir: os 20% mais apressadinhos, os 10%, os 5% ou apenas aqueles 1%?! O limite de velocidade não deve ser a média, pois assim, o radar passa a funcionar como uma barreira e há casos onde uma simples barreira é melhor do que o radar (próximo de escolas por exemplo).Se escolhessemos multar os 20% acima o limite do exemplo seria 67.2 (o que é muito próximo da realidade, já que os radares têm uma tolerância de 10%).
Se escolhessemos multar só os 10% acima, o limite deveria ser 71Km/h. E para o caso de 5% e 1% as velocidades de tráfego seriam 74Km/h e 81.4Km/h, respectivamente.
Nessa proposta, a grande sacada não é colocar um limite de velocidade para toda a via que seja algo próximo da média e avisar o motorista quando tem radar, mas sim adotar um limite mais factível para toda a pista e pegar quem realmente estava correndo. Dessa maneira seria tanto melhor se os radares fossem ocultos, pois assim, com uma proporção adequada de captura dos infratores, os indivíduos respeitariam mais o limite da velocidade.E as companhias de trânsito, tentando adotar uma estratégia de maximização de lucros fariam um serviço social, já que seria de seu interesse se esforçar para pegar motoristas trapaceiros do limite. A sociedade teria de estar sempre de olho para a companhia não alterar o threshold estipulado para cada trecho.
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* Meu porém, então, só fica pela falta de opção no horário o que não é um bom princípio. É como chegar no supermercado e ter apenas um tipo deproduto para escolher.
** Os radares são muito melhores do que os quebra-molas pelo seguinte princípio: no quebra-molas todos pagam pelo comportamento de uns poucos que gostam de correr. Mesmo o indivíduo que trafega dentro do limite, terá de freiar. No radar paga somente aquele que infrigiu a lei, o custo não recai sobre todos os motoristas.
OBS_1: A rotina está disponível nos comentários.
OBS_2: A geração de dados aleatórios que desenvolvi pode levar ocasionalmente a valores extremos como 140 Km/h com alguma probabilidade e o histograma vai ficar um pouco "achatado". Mas não se assuste, a rotina continua valendo.
Um comentário:
# Rotina para replicar a brincadeira dos carros
carros <- round(jitter(rpois(1000,60),20)+ rbinom(1000, 1, 0.001)*rnorm(1000,90,0.5),1)
min(carros)
max(carros)
hist(carros, xlab="velocidade", ylab="frequência de carros", main="Velocidade dos carros em determinado trecho de via")
mean(carros)
median(carros)
sd(carros)
q <- seq(0,1, by=0.05)
quant <- round(quantile(carros, prob=q),1)
quant
hist(carros, xlab="velocidade", ylab="frequência de carros", main="Limites Threshold para Radares de Trânsito")
segments(quant[17],0,quant[17],300, lty=2, col="blue", lwd=2)
segments(quant[19],0,quant[19],300, lty=2, lwd=2)
segments(quant[20],0,quant[20],300, lty=2, col="purple", lwd=2)
segments(quantile(carros, prob=0.99),0,quantile(carros, prob=0.99),300, lty=2, col="red", lwd=2)
text(quant[17],-5,quant[17],col="blue", cex=.7)
text(quant[19],-5,quant[19], cex=.7)
text(quant[20],-5,quant[20],col="purple", cex=.7)
text(quantile(carros, prob=0.99),-5,quantile(carros, prob=0.99),col="red", cex=.7)
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