A Educação é tema muito explorado pelos economistas, o interesse pelo assunto vem desde A. Smith e outros autores clássicos. No século XX essa área cresceu bastante, tanto que as diversas contribuições dos economistas são levadas em conta por as outras áreas que dedicam ao assunto, inclusive na pedagogia.
A tradição sobre a pesquisa no assunto está relacionada com a importância do trabalho para a constituição do valor para a sociedade. O fator humano é essencial para a construção de uma sociedade mais pujante, isso se reflete no PIB e em diversos indicadores sociais que os economistas usam para monitorar e promover o progresso cultural e econômico da sociedade. A educação é componente essencial do trabalho, a criação humana se inspira tanto na criatividade quanto no conhecimento. Uma sociedade ou pais se torna mais próspera quando sabe gerar e aproveitar novos conhecimentos produtivos e idílicos e quando consegue incorporá-los com rapidez e facilidade.
Na última segunda-feira, a Folha de S. Paulo enumerou sete itens, chamados de "mitos", sobre o que pode ser feito para melhorar a qualidade da educação. Para o Brasil essa questão é muito importante, pois além de ser um dos gargalos para o melhor desenvolvimento do país, há inúmeros problemas que precisam ser equacionados para se conseguir um melhor patamar de educação, condizente com países que possuem maior sucesso nesse campo.
Em minha dissertação, estudei o que pode ajudar na formação das melhores e mais eficientes escolas (ou seja, aquelas escolas que conseguem ajudar seus alunos de melhor maneira possível, tendo como referência provas de proficiência em matemática e português). Um dos pontos levantados é que escolas com infraestrutura básica são essenciais para o bom ensino, entretanto, aumentar o 'capital' das escolas per si não garante melhor desempenho como afirma a matéria do jornal. Em artigo síntese escrito para Política Econômica Aplicada, mostramos que alguns itens de infraestrutura em demasia, como televisores, video-cassete, salas multimídia, entre outros, atrapalham o desempenho da média dos alunos. A tese é de que muito provavelmente são itens subaproveitados ou desperdiçados. Na contramão dessa evidência, a presença de computadores e laboratórios parece sim contribuir para um desempenho positivo, mesmo quando a presença dos consumidores ocorre apenas para fins administrativos.
Mas nenhuma solução para a educação é de curto prazo, reproduzo aqui então, os mitos apontados pela folha que apontam pesquisas feitas por vários pesquisadores da área de educação (inclusive economistas) que ajudam a entender o tema, mas não exaurem o assunto nem esgotam as possibilidades de solução. Creio que um dos pontos que faltou ser apontado é o aspecto de gerenciamento das escolas públicas que pode ajudar a explicar muito o papel dessas instituições no Brasil.
Eis aqui os 7 Mitos na Educação:
1. Só pagar melhor o professor já melhora o aprendizado. Pesquisas Nacionais e internacionais indicam que não há relação entre salário do professor e o aprendizado dos alunos no curto prazo, já que não há impacto imediato na maneira de como o professor ensina. No entanto, no longo prazo, alguns especialistas em educação afirmam que isso pode tornar a carreira de professor mais atraente, estimulando os melhores alunos do ensino médio a seguirem essa profissão.
2. Melhorar a Infraestrutura da Escola tem impacto positivo no desempenho dos alunos. Na avaliação de alunos da oitava série na Prova Brasil de 2007, de 14 CEU's avaliados, 9 tiveram nota menor que a média da rede municipal de São Paulo. Uma das hipóteses é que, sem ter professores preparados para ensinar melhor, dispor de facilidades como piscina, teatro e recursos tecnológicos não traz avanço no aprendizado dos alunos.[1]
3. A progressão continuada contribui para piorar a qualidade do Ensino. Nesse sistema, o aluno não está sujeito a repetência ao fim de cada série, mas ao fim de cada ciclo. Segundo pesquisa de Naércio Menezes Filho, os alunos das redes com progressão continuada têm desempenho muito parecido ao dos alunos de escolas com regime seriado. "Além disto, a evasão é muito maior no segundo caso (seriado). [2]
4. Cursos de reciclagem para professores ajudam a melhorar o ensino. Estudos feitos no Brasil e no exterior mostram que os professores que fizeram os chamados cursos de formação continuada não passaram a ensinar melhor. Isso porque eles são muito teóricos e influenciam muito pouco na melhoria do ensino em sala de aula. Mozart Neves, presidente do Todos pela Educação e professor da UFPE, ressalta que o mais indicado seria melhorar a formação nas universidades.
5. Gastar mais com educação é suficiente para aumentar o aprendizado dos alunos. De acordo com levantamento feito por Menezes Filho, municípios que gastam R$ 1.000,00 por aluno no ensino fundamental têm a mesma nota na Prova Brasil do que municípios que gastam R$ 3.000,00. O economista Gustavo Ioschpe lembra ainda que, na maioria dos casos, aumentar os gastos com educação significa elevar os salários dos professores, que não é algo que dá resultados.[3]
6. A escola não pode ajudar filhos de famílias desestruturadas. Para aprender, o aluno deve estar bem emocionalmente, mas isso não quer dizer que a escola deve se eximir de seu papel de educar, diz Magdalena Viggiani Jalbut, do Instituto Superior de Educaçao Vera Cruz. Além disso, mesmo no caso de uma família fora do padrão (quando mãe e pai não estão interessados na educação do filho), qualquer outro parente, até um primo, pode estimular a criança a aprender, segundo estudos feitos na França citados por Maria Letícia Nascimento, da faculdade de Educação da USP.[4]
7. Sistemas de Ensino apostilados tolhem a autonomia do professor. Estudos feitos por Paula Louzano, doutora em educação pela universidade de Harvard (EUA), mostram que municípios de São Paulo que usam esses métodos estruturados (como os do COC e do antigo Anglo, com apostilas) tiveram desempenho superior na Prova Brasil, na comparação com as demais redes municipais. Em entrevista com professores que usam o sistema, 84% disseram que o desempenho melhorou e 36% que o material estimula o aprendizado.
Como podem ver é difícil formular políticas de educação para o país e tentar explicar em detalhes o que pode funcionar ou não, mas um aspecto que considero importante é que hoje educação virou um tema que preocupa a todos os brasileiros, que o vêem agora como uma das prioridades educacionais. No Brasil ponto a ponto, onde brasileiros manifestaram espontaneamente suas preocupações para o desenvolvimento do país, educação é posta em primeiro lugar. Essa "corrente pra frente" na educação, aliado ao componente populacional que tende a aliviar a pressão de recursos no ensino fundamental e médio, fará que o Brasil se torne um país mais desenvolvido nesse aspecto ajudando a superar o gargalo educacional.
[1] A matéria tratou esse ponto de maneira bem rápida, não é tão simples como o colocado. Há evidências de que computadores são de fato importantes, não só pela minha pesquisa, mas também por pesquisas feitas pela FGV. O desenho ao lado desse mito é justamente de um computador. Mas como levantei também no texto dessa postagem, grande parte desse investimento em capital das escolas não necessariamente traz altos retornos em educação. Mas no Brasil onde algumas escolas não tem água, carteiras e energia elétrica não chega, é preciso sim de algumas condições mínimas de infraestrutura.
[2] No começo de setembro tive a oportunidade de ler esse artigo do Naércio Menezes, Ligia Vasconcelos, Sergio Werlang e Roberta Biondi. Os autores mostram que além da rede de progressão continuada não prejudicar significativamente no desempenho a evasão desse sistema é significativa e menor. Então, pelo efeito econômico de quem tem ensino médio concluído garantir maior retorno salarial e de renda, a política de progressão continuada oferece um retorno maior e é desejável socialmente. Há um trade-off em questão sobre a progressão e a qualidade, dado que a progressão não prejudica a qualidade é interessante medida. Convém lembrar que o objetivo de uma boa escola não é reprovar maus alunos, mas sim elevar o nível do maior número de possível de alunos e conseguir aliar essa tarefa primeira com a outra tarefa importante de desenvolver e identificar-encaminhar os talentos individuais excepcionais. Dissertação recente da Luciana Luz da UFMG também explora esse ponto com conclusões também interessantes sobre a progressão continuada.
[3] O Brasil não gasta pouco do seu orçamento com educação, os recursos educacionais são vinculados e há ainda os repasses da União através do FUNDEB para garantir um gasto mínimo para escolas públicas com precariedade de recursos. Em porcentagem do PIB, o país gasta cerca de 4,5% do PIB com educação pública básica (fundamental e médio). Oscilando entre 4% a 5%, tal nível de gastos pode ser considerado em patamares de outros países em desenvolvimento e outros mais desenvolvidos. Uma consideração que há muito engessamento de recursos, a compra de material pelas escolas tem de ser prevista com um ano de antecedência e muitas vezes não se destina para a compra de recursos para os quais a escola mais necessita.
[4] Depois de um longo tempo denotando grande importância para condições familiares, chegando ao extremo de dizer que a escola não importava quase nada no desenvolvimento do aluno, a ciência volta a recuperar o valor da escola e a contextualizar a influencia de fatores familiares e sociais, tentado desvendar como eles atuam no papel educacional.
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