A pandemia do Covid-19 no Brasil está indo embora. Além disso, pode ser que as previsões mais otimistas feitas por mim aqui na postagem anterior se confirmem, porém, é preciso nos mantermos firmes e atentos, o coronavírus se espalha com facilidade, então, novas ondas podem ocorrer.
Colocarei aqui brevemente alguns gráficos que atualizam os dados da última postagem. O Gráfico 1 é a curva epidemiológica de mortes, a que deveria ser achatada para o sistema de saúde dos países darem conta de atender a todos que necessitassem.* Como explicado anteriormente, cada barra em verde são as mortes ocorridas durante um agrupamento de 4 dias, isso serve para "suavizar" a sazonalidade dos dados. A linha em vermelho apenas acompanha esses dados para ajudar na visualização e as linhas em azul suavizam ainda mais os dados, desprezando algumas quedas.
Gráfico 1 - Número de mortes a cada 4 dias
Fonte: Dados oficiais do Ministério da Saúde, https://covid.saude.gov.br/ elaborados pelo autor.
O Gráfico 2 apresenta a curva de mortes logaritmizada por estados (calculada a cada 4 dias) e com uma média móvel de 3 períodos para cada conjunto de 4 dias. O estado que apresenta uma queda mais consistente ao longo dos últimos dias e com o pico provável entre os dias 08/05 e 15/05 é o Amazonas. Quem acompanhou as notícias do início de Maio deve ter visto que AM teve uma curva epidemiológica com um pico muito acentuada. Um tanto por conta da imunidade de rebanho, os casos de AM devem estar em queda. Pará está também com uma queda e teve um pico por volta de 24/05 até 30/05, outro estado com curva epidemiológica que foi muito aguda. Ceará e São Paulo parecem indicar uma queda futura.
Gráfico 2 - Curvas de Mortalidade Diária "Suavizada" por Estado (Escala Logarítmica)
Obs: Um leitor atento deste blog sugeriu mudanças no eixo Y deste gráfico que agora tem o número absoluto mas na escala logaritmizada e a palavra "morte" onde estava "caso" no eixo X, com a correção da data para 12/03 para 17/03. Por conta dessa correção o gráfico tem dados mais atuais do que os do dia de sua publicação. Mais detalhes nas observações ao final.
Alguns estados estão ainda na alta: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás e Paraná. Outros estados estão mais indefinidos, mas é possível já identificar que as taxas de crescimento das mortes acumuladas já convergiram para algo de 3% ao dia, como pode ser visto no Gráfico 3.
Gráfico 3 - Taxas de crescimento do nº de mortes acumuladas para a COVID-19 nos Estados BR
Fonte: Dados oficiais do Ministério da Saúde, https://covid.saude.gov.br/ elaborados pelo autor. O objetivo é crescimento 0%.
Quando se coloca os dados acima no detalhe, se vê que no intervalo de 0% a 10% existe ainda muita oscilação, Brasil, RJ, PA, SP e CE estão na mesma tendência, São Paulo, inclusive, está com a menor taxa, pouco acima de 1%. MG, GO, PR, DF tiveram um descolamento recente (o Mato Grosso é o estado com curva mais alta, mas ainda com número de mortes baixo relativamente à população do estado e o Mato Grosso do Sul logo em seguida, com apenas 36 mortes até a data de hoje. Outros estados possuem ainda uma convergência mais devagar.
Gráfico 4 - Taxas de crescimento do nº de mortes acumuladas Covid-19 (detalhe)
Fonte: Dados oficiais do Ministério da Saúde, https://covid.saude.gov.br/ elaborados pelo autor. O objetivo é crescimento 0%.
Pode ser ainda que a tendência reverta, mas parece improvável por enquanto, abaixo tecerei observações sobre a decisão do governo de tentar alterar a metodologia de consolidação e divulgação dos dados. Outro motivo para uma queda mais rápida da curva pode ser a descoberta que foi muito veiculada ontem sobre a Dexametasona, medicamento para os casos mais graves dos pacientes internados e que já era usado em alguns protocolos no Brasil. O Gráfico 5 traz a atualização da projeção das taxas, todos os 13 mais recentes dados observados estão abaixo da curva da projeção, estão portanto mais próximas da projeção mais otimista.
Gráfico 5 - Taxas de crescimento do nº de mortes acumuladas Covid-19 (detalhe)
Finalmente, o gráfico da curva logística com os dados mais recentes (até o dia 17/06) está atualizada abaixo. Parece haver uma leve indicação de que pode ficar abaixo da estimativa otimista, porém, é preciso ter cuidado pois são fáceis as reversões de tendência (farei mais observações abaixo).
Gráfico 6 - Curva Logística para o total de óbitos (Projeção otimista até o final do ano)
Esses são os dados atualizados, abaixo duas observações importantes.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
1. Sobre os dados - Apenas dois dias após eu ter feito minha última postagem sobre esses dados da covid-19 no Brasil, no dia 05/06, o governo decidiu não divulgar mais os dados da forma como vinha divulgando desde o início da pandemia no Brasil. Essa decisão pegou muito mal. No discurso oficial seria uma parada metodológica para adequar os dados, pois as notificações de óbitos, por exemplo, eram informadas em um dia diferente daquele que teriam de fato ocorrido. Em tese, essa correção diminuiria os efeitos da sazonalidade que comentei na última postagem.
Porém, apesar de qualquer melhoria metodológica ser bem-vinda (outros países também adotaram as modificações na divulgação dos dados), a coceira por "mitadas" desse governo fez com que o Bolsonaro alfinetasse a emissora Globo com a declaração: "Acabou matéria do Jornal Nacional". Não dá pra entender a estratégia (ou a falta dela) deste governo, pois, sobre o uma parada como essas restam duas dúvidas:
- Se os dados já estavam corretos, a parada deu a impressão de que agora estão errados. Gerou suspeita.
- Se os dados estavam errados, a parada não resolveu, pois voltaram a ser divulgados como antes por determinação judicial.
Em resumo, se os dados estavam bons (ou o melhor que se podia garantir oficialmente), agora a impressão de que estão ruins e se já estavam ruins, essa parada técnica abrupta parece não ter ajustado nada. A maneira de fazer isso era ter os dois sistemas correndo em paralelo e pelo convencimento mostrar que o novo sistema era melhor, não cancelar por dois dias os dados do site.
2. Sobre as precauções - O fato da curva epidemiológica de mortes, por acaso, entrar na descendente, não é um convite para o "liberou geral" e isso não significa que a população deva se descuidar. Em alguns estados o vírus não se difundiu ainda plenamente e em algumas cidades essa praga ainda não chegou. A possibilidade de uma segunda onda é real. Mesmo nas cidades que tiveram muitos casos, a imunidade de rebanho não atingiu patamares suficientes para garantir que uma segunda onda não ocorra.
Então, as boas noticias são mantidas as condições normais atuais. Outro lado bom é que as pesquisas para o tratamento e as vacinas para a covid-19 (inclusive uma que é desenvolvida no Brasil) estão em estágio avançado, contrariando as previsões mais conservadoras e pessimistas. Esse desenvolvimento está rápido, felizmente. Ainda assim, "todo cuidado é pouco".
Uma matéria da The Economist que apresenta esse gráfico é esta daqui:
OBSERVAÇÕES: Edição do dia 30/06/2020. Um leitor atento deste blog, que pediu para não ser identificado, me sugeriu correções importantes no gráfico 2 para sua melhor interpretação. Por conta da edição de hoje esse gráfico possui dados mais recentes do que aqueles da publicação. As correções foram:
- No eixo Y estavam os valores logaritmizados na base 10, mas os valores eram de 4 em 4 dias na média suavizada em uma janela de 12 dias (3 janelas de 4 dias). Como o título estava diária isso induzia o leitor a fazer uma conta errada para chegar no número real diário de mortes.
- Para melhor visualização mudei o eixo Y para expressar os valores absolutos do número de mortes, mas o eixo não é isométrico mas logaritmizado.
- O eixo X apresentava após o primeiro "caso (12/03)", que na verdade é a primeira morte oficial para esse gráfico que aconteceu dia 17/03 em São Paulo. Está corrigido.
- O gráfico continua suavizado em 3 janelas de 4 dias cada, mas o número é a média "suavizada" de mortes diárias.
- O comportamento das curvas não se alterou em nada com essas mudanças, mas agora as informações não induzem os leitores ao erro.
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