Essa semana chamou atenção um estudo econômico que vai ficar marcado para o conhecimento técnico do futebol e para as evidências de experimentos naturais em economia. José Apesteguia (Universidade de Pompeu-Fabra de Barcelona) e Ignácio Palacios-Huerta (London School of Economics) estudaram um experimento natural curioso: o cara e coroa antes dos pênalties no futebol. O estudo está para vir na próxima edição de uma das revistas mais tops de economia: a American Economic Review.
Como a maioria dos estudos vêm desde muito antes da publicação, encontrei um working paper desses mesmos dois autores (aqui na IDEA REPEC). Os autores utilizaram um banco de dados da Union of European Football Association (a UEFA) e possuem 262 informações sobre as decisões por pênaltis e 2.273 cobranças, realizadas no período de 1970 a 2008. Os autores lembram que a partir de 2000, o capitão ganhador do sorteio pode escolher entre seu time ser o primeiro a chutar ou chutar depois.
Pois então, há alguns detalhes técnicos que podemos descutir com os economistas e estatísticos aqui nos comentários. Os autores controlam a qualidade do time (pelo ranking da FIFA, para países, e o ranking UEFA para clubes) e se jogo é em casa de um dos times ou em campo neutro. Não encontraram nenhum efeito para as covariáveis acima, mas o resultado interessante é que o time que ganha no cara ou coroa tem uma chance maior de vencer a decisão. Para as decisões de penaltis com apenas 5 cobranças, essa chance chega a ser quase 100% maior do que para o time que bate em segundo. Essa chance se mantém para as decisões que se finalizam no sétimo e oitavos chutes. No sexto chute, caso os cinco primeiros fiquem empatados, eles encontram uma vantagem para o segundo a bater. A medida que a decisão se prolonga o banco de dados fica naturalmente com menos dados já que é difícil encontrar ocasioções de decisões empatadas até a 12ª rodada, por exemplo.
O resultado geral é que, de 1970 a 2008, o time que bate primeiro tem uma chance de ganhar 60% das decisões contra 40% do time que bate em segundo lugar. Muito interessante alguns dsdobramentos que os autores fazem. Se o time que bate primeiro mantem a dianteira na pontuação, sua chance de ganhar se amplia, do contrário, se o time que bate primeiro fica atrás, a chance de ganhar cai considerávelmente. Os autores concluem que há um efeito psicológico em se manter na dianteira e por isso o cara ou coroa chega a ser fundamental para o futuro dos times em uma decisão por pênaltis.
Esse efeito é sugerido pelos próprios jogadores e técnicos. Após a mudança da regra em 2000, os ganhadores do cara ou coroa, continuaram optando por bater primeiro e o motivo alegado foi a vantagem psicológica. Apenas um caso fugiu a regra nessa escolha.
Esse efeito é sugerido pelos próprios jogadores e técnicos. Após a mudança da regra em 2000, os ganhadores do cara ou coroa, continuaram optando por bater primeiro e o motivo alegado foi a vantagem psicológica. Apenas um caso fugiu a regra nessa escolha.
Por fim, os autores recomendam, para anular a vantagem do time que cobra primeiro, a cobrança do pênalti duas vezes para cada jogador, seria como a lei da vantagem do tie-break no tênis. Se o batedor converte passa a chance ao próximo time, caso não converta de primeira, há a chance de converter na segunda. Eu acho que desse modo passariamos a ter outro problema, gols demais nas decisões dos pênaltis. E extenuantes decisões longas. Mas talvez seja mais justo mesmo.
Por fim, há um amigo que menciona sempre estudos que mostram qual é o canto mais provável de conversão ao se bater no chute à gol. Mas deixo esses estudos para outra postagem...
2 comentários:
Acho que o efeito psicológico não seria anulado, pois, mesmo que fossem dois chutes por atleta, ainda sim teria quem iria chutar primeiro. Uma ou duas vezes primeiro.
Que estudo estatístico curioso!
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Diego, acho que a solução deles não resolve de todo, mas acho que pode dar uma amenizada no problema. Os autores devem estar considerando que há uma tendência de reversão à média.
Supondo um jogador com 90% de chance de acertar a bola no gol, o resultado: ("Erra", "Erra") é menos provável do que o ("Erra", "Acerta") ou ainda os resultados ("Acerta", "Acerta") e ("Acerta, "Erra"), para os quais não seria necessária a segunda cobrança.
Um amigo ressaltou interessante ponto de que os treinadores geralmente ordenam os batedores de forma decrescente na habilidade de fazer gols. Bons de Chute à gol e cobrança primeiro, ruins de cobrença no final da lista. Em uma decisão prolongada a coisa toda fica nos pés de quem acerta menos.
Mas muito interessante mesmo o estudo.
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