Morreu no último dia 13 de Dezembro de 2009, o economista norte americano Paul A. Samuelson, ao qual todo economista formado na segunda metade do século XX deve imenso tributo. Em verdade, as contribuições de Samuelson foram de tal envergadura que a economia que conhecemos hoje não teria sido a mesma sem sua presença e contribuição.
Ensinamentos de Samuelson que particularmente me marcam bastante são a "condição de Samuelson" que diz que a soma das Taxas Marginais de Substituição de bens públicos e privados deve ao menos equivaler a relação de preços entre bens públicos e privados. Esse achado deriva de todo seu esforço para entender uma teoria geral do consumo e de como é possível agregar preferências individuais distintas. Um dos seus ensinamentos presentes até hoje, é que se a soma da TMS for maior que a relação de preços bens públicos e privados a economia está sujeita a presença dos free riders. No caso onde a soma das TMS é insuficiente ocorre uma ineficiência de pareto com a subprovisão de tais bens.
Outro desenvolvimento teórico muito importante trata das taxas de juros em condições perfeitas. Samuelson desenvolveu uma excelente análise teórica de como os juros surgem para compensar a poupança ou a perecibilidade de certos bens de consumo e capital. Samuelson propõe então um pequeno e simples modelo teórico mostrando como funcionaria uma economia sem poupança acumulada (imagine uma economia só de bens de consumo). Provou que apenas com transferências de moeda intergerações pode-se através dos juros e empréstimos, se situar em um melhor ponto. Ele estabeleceu uma relação entre taxa de juros e crescimento vegetativo mostrando também as suas armadilhas e quebra-cabeças. É um modelo que nos ensina muito sobre o poder da moeda, formas de financiamento da previdencia social, funcionamento da dívida pública e relações de troca. E desvenda até sobre aquilo que não aborda: a transferência de capital entre períodos.
Não menos importante é o estudo do Heckscher-Ohlin, um bonito desenvolvimento da teoria de comércio internacional. É uma extensão do entendimento das vantagens comparativas e permite compreender como podem "surgir" vantagens comparativas advindas de recursos naturais ou do desenvolvimento em diversos tipos de Especialização. Foi um aperfeiçoamento do modelo sobre o qual alguns autores, devido as valiosas contribuições de Samuelson, também denominam de modelo Heckscher-Ohlin-Samuelson, ou modelo 2x2x2, dois fatores, dois produtos e dois países. Como conclusão desse modelo, obtemos que apenas pela troca comercial de produtos, com a equalização de seus preços, haveria também uma tendência à equalização dos valores dos fatores de produção. Um país com abundância de trabalho não especializado venderia mais produtos, obtendo uma melhoria de renda (R = Pt x Qt), essa melhoria de renda é também acompanhada por melhoria da participação dos salários na renda (w/R), isso ocorre pois ao se exportar mais, o fator mais abundante é cada vez mais empregado favorecendo o seu preço relativo. Vem daí o influente trabalho em co-autoria com Wolfgang Stolper: teorema de Stolper-Samuelson, que afirma que no modelo 2x2x2, o preço dos fatores acompanha a valorização dos preços relativos.
É também vasta a influência de seu trabalho sobre dinâmica macroeconômica dentro do que é considerado seu primeiro livro importante: "Foundation of Economic Analysis" no qual o autor revisita a contribuição econômica nas teorias da produção e do consumo e está intrísecamente preocupado com o equilíbrio e suas condições desviantes da função de bem-estar social. Não é à toa que desse livro seminal resultou a proposição do teorema que viria a ser batizado posteriormente como Axioma Fraco da Preferência Revelada, que estabelece que um consumidor que prefere x a y continuará manifestando essas preferências se mantido o poder de compra e forem acrescidos mais bens z's. Ou seja, o consumidor é consistente e a introdução de novas possibilidades não viola sua transitividade, z pode ser melhor ou pior que x, ainda sim x é preferido a y. Esse é um achado importante, pois nos permite confiar na utilidade dos índices de preço e quantidade que nós usamos por aí a fora, que nos dizem que aumentos de preços deixam o consumidor pior, diminuições o deixam melhor. O axioma é a prova disso, ele é dito "fraco" pois requer poucas pressuposições a priori acerca da utilidade dos consumidores. Mantido o poder de compra da cesta de bens que o consumidor preferia em uma situação 1, no momento 2, a possibilidade de comprar essa mesma cesta indica que o consumidor ou está na mesma ou então em situação melhor nesse segundo momento.
Pois então, quando o nível geral de preços se eleva, o indice de preço de Laspeyres, que mantém a cesta inicial, indica apenas duas possibilidades: quando não há mudanças de nenhum dos preços relativos (nem do salário) o consumidor deve escolher a mesma cesta anterior, gráfico 1; no caso e mudanças de preços relativos, restaurado o poder aquisitivo da cesta anterior (aumento do salário para comprar a antiga cesta), o consumidor deve estar igual ou em melhor situação, gráfico 2.
Na parte dinâmica do Foundation Samuelson une com eficácia e sintese as proposições agregativas e traz para a economia as equações diferenciais e a forma de raciocinar sobre esses assuntos que eram próprias da física e engenharia, interpretando equilíbrios dinâmicos maximizadores ressaltando como as coisas são mais complexas do que supunha a mera estática comparativa.
Samuelson é também conhecido por uma larga geração de economistas por um livro-texto campeão de vendas no Brasil e no mundo todo: trata-se do Introdução à analise Econômica, ou simplesmente conhecido como "Economia". Eu tenho um excelente volume da extinta editora AGIR, é uma tradução da 9ª edição norte-americana encadernada em dois volumes (coisa que hoje em dia é algo como um suicídio editorial) . No verbete sobre Samuelson do "Novíssimo dicionário de economia do século XXI" do prof. Paulo Sandroni encontramos que Economia "foi o manual de economia mais lido e traduzido em todo mundo. Esse livro rompeu, na forma e no conteúdo, com o modo tradicional de expor o assunto, fazendo uma clara distinção entre a parte dedicada à microeconomia e a análise macroeconômica, definida como "o estudo do desempenho geral de todo o Produto Interno Bruto e do nível geral dos preços"". É um excelente livro que moldou todos os livro-texto norte americanos vindos posteriormente. Se você acha o Krugman parecido com o Stiglitz & Walsh, que por sua vez se parece com o Mankiw, que parece com Wonnacott & Wonnacott, saiba que todos eles se parecem com o 'Economia' do Samuelson, inclusive na ordem e maneira de tratar os problemas e na escolha de alguns métodos didáticos e exemplos.
Mas o livro de Samuelson é superior, pois apresenta com muitos mais detalhes a exposição dos temas e situa uma discussão mais completa sobre as diferentes correntes teóricas além de um exelente capítulo sobre o entender científico na economia. Em suma, é um livro que ainda hoje é editado em colaboração com Nordhaus e que eu ainda acho útil a leitura de alguns capítulos, tanto para os que aprendem economia agora quanto para os economistas seniors.
Samuelson é devido seguidor de Hicks, Marshall, Walras, Jevons, Slutsky e outros grandes. Os pontos keynesianos sem sombra de dúvida participam de suas preocupações, seus pares ressaltam seu imenso comprometimento com a evidência emprírica. Mas há algo um pouco além disso. Revendo trabalhos de Samuelson que tive a oportunidade de ler, o que felizmente não me foram poucos pois é um dos meus autores diletos, parece me que há algo próximo da própria definição de beleza e creio que sempre quando encontramos isso em trabalhos científicos estamos diante de algo de fato importante, perene, que para humanidade parece mesmo eterno. Um brinde à beleza do trabalho de Samuelson!
Ensinamentos de Samuelson que particularmente me marcam bastante são a "condição de Samuelson" que diz que a soma das Taxas Marginais de Substituição de bens públicos e privados deve ao menos equivaler a relação de preços entre bens públicos e privados. Esse achado deriva de todo seu esforço para entender uma teoria geral do consumo e de como é possível agregar preferências individuais distintas. Um dos seus ensinamentos presentes até hoje, é que se a soma da TMS for maior que a relação de preços bens públicos e privados a economia está sujeita a presença dos free riders. No caso onde a soma das TMS é insuficiente ocorre uma ineficiência de pareto com a subprovisão de tais bens.
Outro desenvolvimento teórico muito importante trata das taxas de juros em condições perfeitas. Samuelson desenvolveu uma excelente análise teórica de como os juros surgem para compensar a poupança ou a perecibilidade de certos bens de consumo e capital. Samuelson propõe então um pequeno e simples modelo teórico mostrando como funcionaria uma economia sem poupança acumulada (imagine uma economia só de bens de consumo). Provou que apenas com transferências de moeda intergerações pode-se através dos juros e empréstimos, se situar em um melhor ponto. Ele estabeleceu uma relação entre taxa de juros e crescimento vegetativo mostrando também as suas armadilhas e quebra-cabeças. É um modelo que nos ensina muito sobre o poder da moeda, formas de financiamento da previdencia social, funcionamento da dívida pública e relações de troca. E desvenda até sobre aquilo que não aborda: a transferência de capital entre períodos.
Não menos importante é o estudo do Heckscher-Ohlin, um bonito desenvolvimento da teoria de comércio internacional. É uma extensão do entendimento das vantagens comparativas e permite compreender como podem "surgir" vantagens comparativas advindas de recursos naturais ou do desenvolvimento em diversos tipos de Especialização. Foi um aperfeiçoamento do modelo sobre o qual alguns autores, devido as valiosas contribuições de Samuelson, também denominam de modelo Heckscher-Ohlin-Samuelson, ou modelo 2x2x2, dois fatores, dois produtos e dois países. Como conclusão desse modelo, obtemos que apenas pela troca comercial de produtos, com a equalização de seus preços, haveria também uma tendência à equalização dos valores dos fatores de produção. Um país com abundância de trabalho não especializado venderia mais produtos, obtendo uma melhoria de renda (R = Pt x Qt), essa melhoria de renda é também acompanhada por melhoria da participação dos salários na renda (w/R), isso ocorre pois ao se exportar mais, o fator mais abundante é cada vez mais empregado favorecendo o seu preço relativo. Vem daí o influente trabalho em co-autoria com Wolfgang Stolper: teorema de Stolper-Samuelson, que afirma que no modelo 2x2x2, o preço dos fatores acompanha a valorização dos preços relativos.
É também vasta a influência de seu trabalho sobre dinâmica macroeconômica dentro do que é considerado seu primeiro livro importante: "Foundation of Economic Analysis" no qual o autor revisita a contribuição econômica nas teorias da produção e do consumo e está intrísecamente preocupado com o equilíbrio e suas condições desviantes da função de bem-estar social. Não é à toa que desse livro seminal resultou a proposição do teorema que viria a ser batizado posteriormente como Axioma Fraco da Preferência Revelada, que estabelece que um consumidor que prefere x a y continuará manifestando essas preferências se mantido o poder de compra e forem acrescidos mais bens z's. Ou seja, o consumidor é consistente e a introdução de novas possibilidades não viola sua transitividade, z pode ser melhor ou pior que x, ainda sim x é preferido a y. Esse é um achado importante, pois nos permite confiar na utilidade dos índices de preço e quantidade que nós usamos por aí a fora, que nos dizem que aumentos de preços deixam o consumidor pior, diminuições o deixam melhor. O axioma é a prova disso, ele é dito "fraco" pois requer poucas pressuposições a priori acerca da utilidade dos consumidores. Mantido o poder de compra da cesta de bens que o consumidor preferia em uma situação 1, no momento 2, a possibilidade de comprar essa mesma cesta indica que o consumidor ou está na mesma ou então em situação melhor nesse segundo momento.
Pois então, quando o nível geral de preços se eleva, o indice de preço de Laspeyres, que mantém a cesta inicial, indica apenas duas possibilidades: quando não há mudanças de nenhum dos preços relativos (nem do salário) o consumidor deve escolher a mesma cesta anterior, gráfico 1; no caso e mudanças de preços relativos, restaurado o poder aquisitivo da cesta anterior (aumento do salário para comprar a antiga cesta), o consumidor deve estar igual ou em melhor situação, gráfico 2.
Na parte dinâmica do Foundation Samuelson une com eficácia e sintese as proposições agregativas e traz para a economia as equações diferenciais e a forma de raciocinar sobre esses assuntos que eram próprias da física e engenharia, interpretando equilíbrios dinâmicos maximizadores ressaltando como as coisas são mais complexas do que supunha a mera estática comparativa.
Samuelson é também conhecido por uma larga geração de economistas por um livro-texto campeão de vendas no Brasil e no mundo todo: trata-se do Introdução à analise Econômica, ou simplesmente conhecido como "Economia". Eu tenho um excelente volume da extinta editora AGIR, é uma tradução da 9ª edição norte-americana encadernada em dois volumes (coisa que hoje em dia é algo como um suicídio editorial) . No verbete sobre Samuelson do "Novíssimo dicionário de economia do século XXI" do prof. Paulo Sandroni encontramos que Economia "foi o manual de economia mais lido e traduzido em todo mundo. Esse livro rompeu, na forma e no conteúdo, com o modo tradicional de expor o assunto, fazendo uma clara distinção entre a parte dedicada à microeconomia e a análise macroeconômica, definida como "o estudo do desempenho geral de todo o Produto Interno Bruto e do nível geral dos preços"". É um excelente livro que moldou todos os livro-texto norte americanos vindos posteriormente. Se você acha o Krugman parecido com o Stiglitz & Walsh, que por sua vez se parece com o Mankiw, que parece com Wonnacott & Wonnacott, saiba que todos eles se parecem com o 'Economia' do Samuelson, inclusive na ordem e maneira de tratar os problemas e na escolha de alguns métodos didáticos e exemplos.
Mas o livro de Samuelson é superior, pois apresenta com muitos mais detalhes a exposição dos temas e situa uma discussão mais completa sobre as diferentes correntes teóricas além de um exelente capítulo sobre o entender científico na economia. Em suma, é um livro que ainda hoje é editado em colaboração com Nordhaus e que eu ainda acho útil a leitura de alguns capítulos, tanto para os que aprendem economia agora quanto para os economistas seniors.
Samuelson é devido seguidor de Hicks, Marshall, Walras, Jevons, Slutsky e outros grandes. Os pontos keynesianos sem sombra de dúvida participam de suas preocupações, seus pares ressaltam seu imenso comprometimento com a evidência emprírica. Mas há algo um pouco além disso. Revendo trabalhos de Samuelson que tive a oportunidade de ler, o que felizmente não me foram poucos pois é um dos meus autores diletos, parece me que há algo próximo da própria definição de beleza e creio que sempre quando encontramos isso em trabalhos científicos estamos diante de algo de fato importante, perene, que para humanidade parece mesmo eterno. Um brinde à beleza do trabalho de Samuelson!
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