Aos amigos economistas que não gostam de futebol peço desculpas. Adianto-lhes que ainda vou escrever um pouco mais sobre o assunto por uma ou duas vezes mais ao longo dessa copa do mundo. Os que apreciam economia entenderão que não estou falando de só de futebol, mas sim de economia e estatística aplicadas aos assuntos do dia, e o futebol realmente dá muito pano pra manga.
Pense pelo lado do dinheiro movimentado pelo esporte, estimativas dão conta que o futebol pode movimentar cerca de 1% do PIB mundial (500 Bilhões de dólares), isso é mais do que qualquer outro esporte até onde tenho notícia. Pois bem, vamos guardar essa informação no fundo da cachola.
Desde o mês passado estou querendo fazer uma matéria sobre o atraso da reforma dos estádios brasileiros. Até onde pude conferir poucos estádios brasilieiros começaram as suas reformas para a copa que já é agora em 2014: o Governador Magalhães Pinto (Mineirão de Belo Horizonte) e o Mario Filho (Maracanã).
Coincidência ou não os dois estádios são públicos, isso revela o estado de coisas que tomam conta do Brasil, principalmente no que concerne à investimentos rentáveis que são os estádios em copas do mundo. É um bom caso examinar porque os estádios públicos começaram primeiro nessa corrida de reformas e investimentos. Sobre reformas aqui.
Vejamos o caso do Morumbi em São Paulo, o estádio do time paulistano é uma das maiores estádios privados no Brasil, está a toda hora na TV e nos jornais, pois apresentou quase uma dezena de projetos com propósito de sediar o jogo de abertura, nenhuma delas vingou, jornalistas já dizem inclusive que o Morumbi está fora da copa de 2014. Outro exemplo, Arena da Baixada (Joaquim Américo Gumarães), em Curitiba. O estádio do Atlético-PR é um dos mais bonitos do país, pertence ao clube. A arena está com problemas para levantar o capital privado para viabilizar seu projeto. Algo semelhante ocorre com o estádio Olímpico do Grêmio de Porto Alegre.
Enfim, é uma endemia a situação dos estádios privados brasileiros. Olhe agora para os estádios da África do Sul com sua TV de High Definition (já que essa é a primeira copa com essa transmissão)* e depois veja a penúria de nossos estádios, principalmente os públicos. Olhe para o Mané Garrincha de Brasília (que nem pode ser chamado ainda de Estádio, parece mais um campão), veja o estado do Mineirão, Maracanã, Castelão etc... Existe uma enorme distância para que o país do futebol mas não do investimento chegue lá.
"Ah, mas olha aí, a solução é o investimento público, veja os estádios públicos estão na frente na corrida das reformas!". Não poderia haver argumento mais enganoso, a reforma do Maraca não começou pra valer, chamaram uns gatos pingados, meia dúzia de jornalistas para tirar fotos e ficou por isso mesmo. No Mineirão não está muito diferente. "O que acontece Mr. economista?"
- O que ocorre é que desde o descobrimento o Brasil é um país que não sabe investir, a iniciativa privada é apática. No lado do governo e pela ótica das regulamentações não temos um mínimo de talento para organizar o background fundamental para propiciar que os investimentos particulares floresçam. Por esse estado de coisas a iniciativa privada do país é extremamente acanhada e conformada, ela é o second mover, pois já está acostumada ao Estado entrar na jogada com grana alta. Ela é como o filho de papai que quer ganhar o carro mas não põe seu próprio dinheiro no investimento: "pra quê vou pagar o carro todo se eu ajudar com apenas 30% fico com a propriedade do negócio?" O estado, ao ser o first mover, acostuma mal demais a nossa sociedade e acaba gerando comportamentos racionais por parte da iniciativa privada. Esse é um argumento bem conhecido dos antigos economistas: o famoso "crowding out".
Estudemos mais afundo, tá certo que o Brasileiro ama futebol, que a copa traz investimentos positivos turistas e etc e tal. Porém, sou totalmente contra colocar dinheiro público nos estádios. Primeiro, eu não gosto de futebol tanto assim, vou pouco às arenas. Segundo, existem outros esportes. Terceiro, e mais importante, o Brasil precisa de enormes investimentos em outras áreas, olhai as casas do Alagoas que literalmente está agora alagado. Um estádio não é particularmente um investimento que chega às pessoas mais pobres (isso pudemos observar no amistoso Brasil e Zimbabue e um pouco nessa copa da África do Sul). Eu aplaudiria um governo que para a copa vindoura não deslocasse nenhum centavo do dinheiro público para estádios.
O Estado deve sim investir na Infraestrutura, estradas, metrôs, saneamento, aeroportos, trens. São investimentos duradouros com impactos para a Copa mas com alcances que vão mais além. Alguns desses investimentos até cabem ao lado privado dado que são também rentáveis. Esse é o papel de uma administração pública pautada no uso eficiente de recursos voltada ao interesse social. Conheço gente que enquanto rola a copa não está assistindo e sim trabalhando, mora longe do trabalho e tem de usar o parco sistema público de transporte das capitais. Esse é o brasileiro que necessita ser respeitado no gasto do dinheiro público.
Sobre o investimento privado, vamos entender melhor: "nós não estabelecemos garantias". Pois bem, peguemos o caso do Morumbi, olha só que coisa maluca: ninguém sabe ao certo qual cidade vai sediar a abertura da copa do Mundo. Isso não deveria estar estipulado desde o projeto? Esse impasse, essa indecisão imobilizam o capital. Nós vamos assistir uma peça muito parecida com essa que ocorreu na África do Sul: correria para terminar as reformas no tempo, prazos estourados, escassez de mão de obra qualificada, orçamentos superfaturados e por fim congestionamentos para chegar neles. Desistência de turistas, roubos e etc...
Enfim, quadro que todos nós brasileiros muito bem conhecemos, com um retoque ainda mais trágico, nossos estádios nem serão tão bonitos quanto os da África do Sul (que são grandes elefantes brancos diga se de passagem, nada mais apropriado, eles estão na África).
Link para continuação: Os Investimentos no Brasil e a Copa II
* Eu ainda não tenho HDTV, nem ligo muito pois não assisto tanta TV assim.
Pense pelo lado do dinheiro movimentado pelo esporte, estimativas dão conta que o futebol pode movimentar cerca de 1% do PIB mundial (500 Bilhões de dólares), isso é mais do que qualquer outro esporte até onde tenho notícia. Pois bem, vamos guardar essa informação no fundo da cachola.
Desde o mês passado estou querendo fazer uma matéria sobre o atraso da reforma dos estádios brasileiros. Até onde pude conferir poucos estádios brasilieiros começaram as suas reformas para a copa que já é agora em 2014: o Governador Magalhães Pinto (Mineirão de Belo Horizonte) e o Mario Filho (Maracanã).
Coincidência ou não os dois estádios são públicos, isso revela o estado de coisas que tomam conta do Brasil, principalmente no que concerne à investimentos rentáveis que são os estádios em copas do mundo. É um bom caso examinar porque os estádios públicos começaram primeiro nessa corrida de reformas e investimentos. Sobre reformas aqui.
Vejamos o caso do Morumbi em São Paulo, o estádio do time paulistano é uma das maiores estádios privados no Brasil, está a toda hora na TV e nos jornais, pois apresentou quase uma dezena de projetos com propósito de sediar o jogo de abertura, nenhuma delas vingou, jornalistas já dizem inclusive que o Morumbi está fora da copa de 2014. Outro exemplo, Arena da Baixada (Joaquim Américo Gumarães), em Curitiba. O estádio do Atlético-PR é um dos mais bonitos do país, pertence ao clube. A arena está com problemas para levantar o capital privado para viabilizar seu projeto. Algo semelhante ocorre com o estádio Olímpico do Grêmio de Porto Alegre.
Enfim, é uma endemia a situação dos estádios privados brasileiros. Olhe agora para os estádios da África do Sul com sua TV de High Definition (já que essa é a primeira copa com essa transmissão)* e depois veja a penúria de nossos estádios, principalmente os públicos. Olhe para o Mané Garrincha de Brasília (que nem pode ser chamado ainda de Estádio, parece mais um campão), veja o estado do Mineirão, Maracanã, Castelão etc... Existe uma enorme distância para que o país do futebol mas não do investimento chegue lá.
"Ah, mas olha aí, a solução é o investimento público, veja os estádios públicos estão na frente na corrida das reformas!". Não poderia haver argumento mais enganoso, a reforma do Maraca não começou pra valer, chamaram uns gatos pingados, meia dúzia de jornalistas para tirar fotos e ficou por isso mesmo. No Mineirão não está muito diferente. "O que acontece Mr. economista?"
- O que ocorre é que desde o descobrimento o Brasil é um país que não sabe investir, a iniciativa privada é apática. No lado do governo e pela ótica das regulamentações não temos um mínimo de talento para organizar o background fundamental para propiciar que os investimentos particulares floresçam. Por esse estado de coisas a iniciativa privada do país é extremamente acanhada e conformada, ela é o second mover, pois já está acostumada ao Estado entrar na jogada com grana alta. Ela é como o filho de papai que quer ganhar o carro mas não põe seu próprio dinheiro no investimento: "pra quê vou pagar o carro todo se eu ajudar com apenas 30% fico com a propriedade do negócio?" O estado, ao ser o first mover, acostuma mal demais a nossa sociedade e acaba gerando comportamentos racionais por parte da iniciativa privada. Esse é um argumento bem conhecido dos antigos economistas: o famoso "crowding out".
Estudemos mais afundo, tá certo que o Brasileiro ama futebol, que a copa traz investimentos positivos turistas e etc e tal. Porém, sou totalmente contra colocar dinheiro público nos estádios. Primeiro, eu não gosto de futebol tanto assim, vou pouco às arenas. Segundo, existem outros esportes. Terceiro, e mais importante, o Brasil precisa de enormes investimentos em outras áreas, olhai as casas do Alagoas que literalmente está agora alagado. Um estádio não é particularmente um investimento que chega às pessoas mais pobres (isso pudemos observar no amistoso Brasil e Zimbabue e um pouco nessa copa da África do Sul). Eu aplaudiria um governo que para a copa vindoura não deslocasse nenhum centavo do dinheiro público para estádios.
O Estado deve sim investir na Infraestrutura, estradas, metrôs, saneamento, aeroportos, trens. São investimentos duradouros com impactos para a Copa mas com alcances que vão mais além. Alguns desses investimentos até cabem ao lado privado dado que são também rentáveis. Esse é o papel de uma administração pública pautada no uso eficiente de recursos voltada ao interesse social. Conheço gente que enquanto rola a copa não está assistindo e sim trabalhando, mora longe do trabalho e tem de usar o parco sistema público de transporte das capitais. Esse é o brasileiro que necessita ser respeitado no gasto do dinheiro público.
Sobre o investimento privado, vamos entender melhor: "nós não estabelecemos garantias". Pois bem, peguemos o caso do Morumbi, olha só que coisa maluca: ninguém sabe ao certo qual cidade vai sediar a abertura da copa do Mundo. Isso não deveria estar estipulado desde o projeto? Esse impasse, essa indecisão imobilizam o capital. Nós vamos assistir uma peça muito parecida com essa que ocorreu na África do Sul: correria para terminar as reformas no tempo, prazos estourados, escassez de mão de obra qualificada, orçamentos superfaturados e por fim congestionamentos para chegar neles. Desistência de turistas, roubos e etc...
Enfim, quadro que todos nós brasileiros muito bem conhecemos, com um retoque ainda mais trágico, nossos estádios nem serão tão bonitos quanto os da África do Sul (que são grandes elefantes brancos diga se de passagem, nada mais apropriado, eles estão na África).
Link para continuação: Os Investimentos no Brasil e a Copa II
* Eu ainda não tenho HDTV, nem ligo muito pois não assisto tanta TV assim.
Um comentário:
A Folha de São Paulo dessa última segunda trouxe boa matéria sobre os benefícos e custos da copa (assinantes):
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/especial/fj1207201002.htm
O Jornal traz também uma listagem dos estádios que podem ser considerados em bom estágio e péssimo estágio, o Atrasômetro:
1.Verdão - Cuiabá. Boa
2.Arena AM - Manaus. Boa
3.Mineirão - B. Horizonte. Razoável
4.A. Capiberibe - Recife. Razoável
5.Beira-Rio - P. Alegre. Razoável
6.M. Garrincha? - Brasília. Quase Preocupante
7.Fonte Nova - Salvador. Quase Preocupante
8.Maracanã - R de Janeiro. Preocupa
9.Castelão - Fortaleza. Grave
10.A. da Baixada - Curitiba. Grave
11.A. de Dunas - Natal. Grave
12.Morumbi - São Paulo. Muito Grave
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