sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Custo Oportunidade de uma Piada

Há uma piada de português que eu gostava muito quando era pequeno (nada contra os amigos portugueses). Vou contá-la aqui, pois é ilustrativa:

Joaquim, português, esperava o ônibus-lotação um pouco distante de seu ponto. Quando viu que o seu ônibus ia passando começou a dar sinal, mas o ônibus não parou ...

Joaquim, correu atrás e insistiu:

- Ei, Ei, raios! Volta aqui, preciso pegaire esse autocarros!


O incansável português continuou a perseguir o ônibus:

- Ei, estou ficando cansado, diabos!

Perseguiu tanto que quando se deu conta já estava à porta de casa. Joaquim entrou feliz da vida e foi logo se dirigindo a sua mulher, Maria:

- Maria, tu não sabes o que acaba de me ocorreire!

- Quê, ó Joaquim.

- Corri atrás de um autocarros até chegaire em casa, economizei os R$ 2,10 da passagem!

Com sarcasmo Maria retruca:

- És mesmo um estúpido , Joaquim, se tu correstes atrás de um taxi, economizarias bem mais!

Hahaha. Eu ria como criança dessa piada. Depois de crescido, analisando já como um economista, a lógica usada nesse chiste é econômica e curiosa, ela usa um dos melhores conceitos econômicos: o custo oportunidade.

A brincadeira é que Joaquim economizou R$2,30, mas se fosse inteligente o bastante ele economizaria uns R$ 15, 00 a 30,00 (dependendo da distância) :)

É um pequeno dilema econômico não é verdade?! Se pensarmos desse modo estamos sempre economizando algo. Ao ir à pé pra casa economizamos os 2,30 da passagem, ao pegar um ônibus economizamos pelo menos uns 12,70 da diferença do ônibus e taxi (ou qualquer valor que seja).

Bom, quando menino eu já resolvia esse dilema: ninguém leva a pé e correndo o mesmo tempo que levaria se estivesse dentro de um ônibus. Parte-se então de que a piada fez um pressuposto irrealista, Joaquim conseguiu acompanhar o ônibus desde o ponto até a sua casa. Bom, se fosse assim (se Joaquim fosse tão rápido na corrida), realmente quase nunca compensaria ele pegar o ônibus, pois de graça ele já consegue chegar em casa quase ao mesmo tempo, talvez só bem mais cansado. Pegar o ônibus para ele teria o preço de se evitar a fadiga como diria o Jaiminho, o carteiro do Chaves (aquele da TV, não o da Venezuela).

Quando vamos de ônibus ao invés de ir a pé é porque escolhemos chegar mais rápido em casa, e também a comodidade de ir sentado lendo ou olhando a paisagem (se o ônibus estiver vazio). Se fossêmos de Taxi chegariamos mais rápido ainda com o conforto de sermos só passageiro e motorista no veículo. E com mais conforto, já que o taxi pode te deixar realmente na porta. O preço da diferença Taxi-ônibus vale esse conforto? E quando não há opção? Vale apena pagar um taxi? Taxi é considerado caro pelos consumidores porque explora um pouco nossa condição de consumidores inelásticos quando não podemos escolher ir à pé, de ônibus ou em carro próprio. Bem verdade que são também caros por restrição de oferta por parte das prefeituras e cooperativas de taxistas e também pela falta de hábito, em Brasília todo mundo tem carro e Taxi é um absurdo, em Recife taxi é um dos mais baratos das capitais do país.

Bom, argumentar pelo irrealismo já resolve muita coisa, mas ainda não é o suficiente para o economista: Vamos então eliminar o efeito tempo, suponhamos que Joaquim correndo seja mesmo tão rápido quanto o ônibus. Ainda assim, porque ele não economiza o dinheiro do Taxi?
Se fossemos fazer a conta de quanto vale essa habilidade Forrest Gump de Joaquim, qual seria o preço disso?

Bom, podemos extender o raciocínio custo oportunidade para algo que é pouco ressaltado: O custo oportunidade não vale para todas as maneiras alternativas imagináveis, pois se assim fosse alguns custos de oportunidade seriam contas sem fim onde o indivíduo passaria o tempo inteiro fazendo contas e não chegaria a decisão nenhuma. Podemos ater a um sentido prático do custo oportunidade válido apenas para alternativas factíveis. Bom, poderia ser que Joaquim no dia que estivesse correndo atrás do ônibus só tivesse em seu bolso os R$2,30, portanto, as duas únicas alternativas que lhe eram viáveis era ou ir à pé ou pegar o ônibus, o taxi não era alternativa, pois ele nem tinha essa grana em sua carteira!

Sendo assim, o inteligente dessa história é mesmo o Joaquim, Maria é uma tonta que nem sabe mesmo considerar o custo de oportinidade relevante para seu marido.

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