Nada como a morte para trazer de volta a vida. A morte de que estou falando é de ninguém menos do que o matemático John F. Nash que morreu junto com sua esposa Alícia (também matemática) na madrugada deste último sábado (23/05/2015). A vida de que estou falando é a deste singelo Blog, que estava às traças e quase quase morrendo. Amigos tem me perguntado se ele morreu ou não. Pois bem, ainda não, tenho tentado de encontrar tempo, como sempre :-)
Longe de querer comparar esse blog a alguém da envergadura de John Nash, o que pretendo fazer aqui é uma pequena homenagem, e nada melhor do que resgatar a excelente biografia escrita pela jornalista econômica Sylvia Nasar. O livro 'Uma Mente Brilhante' foi, sem dúvida, um dos livros mais interessantes que li no ano passado, e de certa forma um dos livros mais interessantes que li em minha vida (não apenas os de economia, então, já digo que o livro se aproxima do que podemos chamar de alta literatura).
Aproveito a oportunidade e incluo outros livros nessa carreirada. Vamos a eles, lembrando novamente a ordem de classificação para o incauto leitor (que não tem a obrigação de lembrar a ordem, porém recaí sobre mim a obrigação de lembrar-lhe a ordem para facilitar e leitura):
___________________Essencial > Muito Bom > Bom > Dispensável > Deplorável
Seguem os livros.
1. Uma Mente Brilhante: Essa resenha vai com um pouco de história pessoal. Primeiro vamos aos detalhes menores, como o subtítulo da capa já diz (veja a figura), esse é o livro que inspirou o famoso filme de mesmo nome lançado em 2002, vencedor do Oscar de melhor filme daquele ano (além de 3 outros prêmios). Sei que é um lugar comum escrever isso, mas o livro é um quintão de vezes melhor do que o filme. O filme tem umas passagens imprecisas sobre a teoria dos jogos, esconde aspectos recônditos e obscuros da vida de Nash e nos retrata somente uma faceta um tanto aguada do personagem que foi John Nash. Por mais que você tenha gostado do filme, recomendo fortemente ler o livro, bem capaz que irá gostar ainda mais do livro. Caso não tenha gostado da versão de Hollywood, recomendo que dê mais uma chance para conhecer a vida deste brilhante matemático. Se você é economista ou trabalha com a área de teoria de jogos, já te adianto minha sentença classificatória: 'esse livro é essencial!'. Pois bem, vai aí um pouco de história pessoal. Desde a época do filme, quando eu ainda estava no meio da minha graduação de economia, eu já sabia que existia um livro biográfico sobre o Nash, porém nunca havia topado com ele em livrarias e naquele tumulto da vida diária eu nunca havia me lembrado de buscar, nem tinha certeza se já havia sido traduzido (não que me importasse muito). Pois então, no começo do ano passado, encontrei na livraria Saraiva em Brasilia um destaque para um outro livro da Sylvia Nasar: A imaginação Econômica (Ed. Companhia das Letras), foi aí que lembrei que Sylvia Nasar havia escrito a biografia de Nash e tive a sorte de achar 'Uma Mente Brilhante' na mesma livraria, e em uma edição com um excelente custo benefício da Editora BestBolso subsidiária da Record (quem tiver interesse corre no link do nome do livro que ainda está com o preço de R$ 29,00 no site). Pois bem, levei os dois livros e comecei a ler pelo livro do Nash, por conta da ordem cronológica e por bem ou mal a vida ter me levado a trabalhar um pouquinho sobre Teoria dos Jogos, então, foi o livro pelo qual decidi começar. O livro começa como uma biografia usual, mas tem um aspecto bem interessante, como bem pontuou Célia Teixeira em resenha feita para o site do Oswaldo Buzzo, Nash viveu em dois mundos opostos: o da Racionalidade e o da Loucura. Esse é um tônus interessante para o Livro, Nasar levanta a hipótese de que Nash muito provavelmente possuía traços de esquizofrenia, uma das doenças neurológicas de mais difícil compreensão. Pouco a pouco vamos acompanhando a relação disso com o gênio matemático de Nash, o livro levanta inclusive a questão de se tal doença catapultava a genialidade de Nash ou se a diminuía ou atrapalhava. O certo é que os anos de tratamento de Nash foram muitos penosos (psiquiatras ainda divergiam sobre a eficácia de tratamentos e precisão de diagnósticos), a autora descreve esses anos também com grande detalhe, o que ajuda a explicar porque Nash ficou no ostracismo por tanto tempo. Independente da doença, Nash tinha uma personalidade interessante, seu talento matemático se mostrou incomum e sua forma de abordar a matemática era atacar de frente grandes problemas. Talvez Nash tenha sido um dos últimos grandes matemáticos generalistas que a matemática do século XX criou, atacava problemas de áreas que iam desde a Álgebra, Cálculo Diferencial, Equações Diferenciais, Teoria dos Números, Geometria Analítica e matemática aplicada (na qual se enquadra a Teoria dos Jogos). Uma das contribuições matemáticas mais importantes de Nash foram seus trabalhos relacionados às equações de Navier-Stokes, pela qual recentemente recebeu o prêmio Abel da Matemática (quase equivalente à Medalha Fields).
Nash era um sujeito intrigante, ao mesmo tempo arrogante e implicante (como prova disso, há a passagem que mostra a ousadia que Nash teve de marcar um encontro com o físico Albert Einstein para explicar aperfeiçoamentos matemáticos à física, isto quando Nash era apenas um aluno de pós em Princeton e Einstein já era tido como o papa da física contemporânea). Mas não há dúvida de que Nash era genial, porém, um pouco de sua arrogância, petulância e jeito de ser fizeram Nash conquistar alguns inimigos nos tempos de mestrado e como professor. A matemática esperava muito dele, e ele mesmo esperava muito de si, os desenvolvimentos das Teses em Teoria dos jogos não foram muito bem recebidos entre os matemáticos, que esperavam desenvolvimentos mais desafiadores da parte dele. Pois bem, a doença jogou Nash alguns anos no ostracismo, mas na área de economia seus trabalhos floresceram dando origem a toda uma área de pesquisa que cresce ainda hoje. É claro que a área deve seu tributo à Von Neumann & Morgenstern, autores do primeiro livro didático organizado sobre o tema, e também pode se dizer que o equilíbrio de Nash era apenas uma generalização do equilíbrio que já havia encontrado Antoine Augustin Cournot (1801-1877), mas Nash conferiu ao conceito, que posteriormente ganhou seu nome, uma generalidade e uma formalização que nenhum outro matemático ou economista havia conseguido, e por isso passou a ser tão citado e lembrado.
Nash era um sujeito intrigante, ao mesmo tempo arrogante e implicante (como prova disso, há a passagem que mostra a ousadia que Nash teve de marcar um encontro com o físico Albert Einstein para explicar aperfeiçoamentos matemáticos à física, isto quando Nash era apenas um aluno de pós em Princeton e Einstein já era tido como o papa da física contemporânea). Mas não há dúvida de que Nash era genial, porém, um pouco de sua arrogância, petulância e jeito de ser fizeram Nash conquistar alguns inimigos nos tempos de mestrado e como professor. A matemática esperava muito dele, e ele mesmo esperava muito de si, os desenvolvimentos das Teses em Teoria dos jogos não foram muito bem recebidos entre os matemáticos, que esperavam desenvolvimentos mais desafiadores da parte dele. Pois bem, a doença jogou Nash alguns anos no ostracismo, mas na área de economia seus trabalhos floresceram dando origem a toda uma área de pesquisa que cresce ainda hoje. É claro que a área deve seu tributo à Von Neumann & Morgenstern, autores do primeiro livro didático organizado sobre o tema, e também pode se dizer que o equilíbrio de Nash era apenas uma generalização do equilíbrio que já havia encontrado Antoine Augustin Cournot (1801-1877), mas Nash conferiu ao conceito, que posteriormente ganhou seu nome, uma generalidade e uma formalização que nenhum outro matemático ou economista havia conseguido, e por isso passou a ser tão citado e lembrado.
Para quem gosta do raciocínio matemático o livro é um prato cheio, a autora não se furta a colocar os detalhes dos pensamentos que guiaram muitas das soluções presentes na vida de Nash e como ele chegou a elas. Para quem não gosta, não precisa ter medo, se me lembro bem, em hora nenhuma, Nasar lança mão de escrever as equações, ela explica o raciocínio sempre na forma de palavras. Para quem gosta de biografias é também uma excelente recomendação. Mais ainda, o livro te prende do início ao fim, as partes que achei mais angustiantes foram as da internação do Nash e seu tratamento à base de injeções de glicose que quase o mataram. Há também um lado humano na obra e na vida do personagem, um homem como todos nós, com defeitos e qualidades e bastante idiossincrático. Foi também um prazer ler esse livro no ano passado, pois eu o li enquanto estive em São Paulo em um evento que contava com a presença do próprio biografado, foi de certo modo um tanto estranho (e talvez um pouco injusto) conhecer e ler sobre a pessoa ao mesmo tempo em que se tomava contato com ela nas apresentações acadêmicas e nos almoços e coffee breaks do evento. Durante todo o evento Nash pareceu um cara muito simples e educado, sempre acompanhado de Alícia que o ajudava e parecia grande companheira.
Ed.: BestBolso, Preço: R$ 29,00. Avaliação: Essencial.
Ed.: BestBolso, Preço: R$ 29,00. Avaliação: Essencial.
2. O Sinal e o Ruído: por que tantas previsões falham e outras não. Explicar o título desse livro já ajuda a elucidar um pouco o tema. Nos primórdios do rádio era quase impossível se obter uma transmissão clara o suficiente para ser compreendida, sempre havia um componente de ruído (erro) que precisava ser minimizado. Quando ele foi minimizado o aparelho se tornou um sucesso, tanto que foi o precursor da TV (que também tem sinal e ruído). Muitas vezes, a informação passada tinha tanto ruído que se tornava incompreensível, ou por conta do erro, o que o emissor falou como RATO poderia ser entendido como PATO, e aí a confusão de interpretação estava dada. Era preciso destrinchar o sinal entre os inúmeros ruídos presentes em uma mensagem transmitida. Da mesma maneira pode ser entendido o trabalho de um estatístico, o mundo e a natureza estão sempre mandando informações. Nessas informações que a natureza nos envia podem existir padrões discerníveis (os sinais) ou apenas incompreensão e padrões desencaminhadores (o ruído). Se os estatísticos forem capaz de entender padrões podem se tornar especialistas em prever quando determinadas situações irão ocorrer, essa é a premissa de Nate Silver para escrever esse livro. Nate Silver é um estatístico com interesses diversos, desde previsões eleitorais até o Baseball. Ele é um dos nomes por trás do site FiveThirdyEight, blog especializado em dados e previsões dos diversos assuntos. Nate Silver sabe que fazer previsões não é fácil, ele respeita a dificuldade de se fazer previsões em diversas áreas. O autor começa então com as áreas em que foi possível se fazer previsões mais acuradas como previsões de corridas eleitorais (que precisam ser conduzidas de uma forma um pouquinho diferente nos EUA), o Baseball e como usar o scout de jogadores para montar um bom time (quem quiser ter uma boa ideia sobre isso pode ver o filme Moneyball), e a previsão do tempo, que é dificílima, mas tem tido um considerável sucesso. Daí o autor passa a se dedicar aos temas difíceis: previsão sísmica, epidemiológica (para a maioria das doenças) e econômica. Esses são apenas alguns dos exemplos, há vários capítulos interessantes no livro, o qual tive muito prazer de ler (tem até um capítulo sobre o Xadrez e outro sobre Pôquer :-)).
Silver não é condescendente com os economistas, ele mostra que o meio possui um excesso de confiança e não confere muito suas previsões, ou seja, tanto na economia quanto nas finanças as previsões são de má qualidade. Na verdade, como disse no começo, para se aventurar em uma previsão é preciso ter um discernimento muito bom do que é sinal e o que é ruído, o que nem sempre é fácil. Na economia Silver entende que é bem difícil fazer isso, mas o autor discute também que as previsões poderiam se bem melhores se os economistas e profissionais do meio tivessem o costume sincero de revisar suas previsões. O livro faz uma boa discussão entre a diferença entre acadêmicos levantadas a partir do trabalho de Tetlock, que tipificou especialistas de ciência política entre raposas e porcos-espinho (os créditos da tipificação de devem ao filósofo e ativista israelense Isaiah Berlin). As raposas seriam os especialistas maleáveis e bons em fazer previsões, pois reúnem todo o tipo de informação, sendo um pouco mais flexíveis para adotar diferentes teorias, já os porcos-espinhos são diligentes, mas procuram encaixar cada pequeno pedaço de informação em um framework maior, levando-os a ser ferrenhos defensores de uma teoria, mesmo que errada. Uma das lições de Nate Silver é de que os especialistas raposa são os melhores em fazer previsões, porém são os que menos aparecem na TV pois, às vezes, seu discurso não é cativante o suficiente para o apelo midiático. E o autor conclama os leitores a se tornarem mais raposas (por mais que eu não goste disso por ser torcedor do Galo, tenho de concordar sobre esta questão nesse contexto).
Ed.: Intrínseca, Preço: de R$ 29,90 a R$ 49,90 Avaliação: Muito Bom.
Silver não é condescendente com os economistas, ele mostra que o meio possui um excesso de confiança e não confere muito suas previsões, ou seja, tanto na economia quanto nas finanças as previsões são de má qualidade. Na verdade, como disse no começo, para se aventurar em uma previsão é preciso ter um discernimento muito bom do que é sinal e o que é ruído, o que nem sempre é fácil. Na economia Silver entende que é bem difícil fazer isso, mas o autor discute também que as previsões poderiam se bem melhores se os economistas e profissionais do meio tivessem o costume sincero de revisar suas previsões. O livro faz uma boa discussão entre a diferença entre acadêmicos levantadas a partir do trabalho de Tetlock, que tipificou especialistas de ciência política entre raposas e porcos-espinho (os créditos da tipificação de devem ao filósofo e ativista israelense Isaiah Berlin). As raposas seriam os especialistas maleáveis e bons em fazer previsões, pois reúnem todo o tipo de informação, sendo um pouco mais flexíveis para adotar diferentes teorias, já os porcos-espinhos são diligentes, mas procuram encaixar cada pequeno pedaço de informação em um framework maior, levando-os a ser ferrenhos defensores de uma teoria, mesmo que errada. Uma das lições de Nate Silver é de que os especialistas raposa são os melhores em fazer previsões, porém são os que menos aparecem na TV pois, às vezes, seu discurso não é cativante o suficiente para o apelo midiático. E o autor conclama os leitores a se tornarem mais raposas (por mais que eu não goste disso por ser torcedor do Galo, tenho de concordar sobre esta questão nesse contexto).
Ed.: Intrínseca, Preço: de R$ 29,90 a R$ 49,90 Avaliação: Muito Bom.
3. Os problemas do milênio: sete grandes enigmas matemáticos de nosso tempo. Não sei se vocês conhecem, mas este livro é sobre os 7 problemas matemáticos que valem um milhão de dólares, prêmio concedido pelo Clay Mathematics Institute (CMI), fundado pelo milionário americano Landon Clay, formado em Letras mas entusiasta da matemática. O CMI reuniu uma equipe de matemáticos para propor quais seriam os problemas mais importantes para a matemática responder no próximo milênio, ou seja, problemas que se resolvidos podem abrir novas fronteiras na matemática, gerando mais problemas interessantes e solucionando uma série de subproblemas derivados. O espírito dos problemas do milênio pegam carona nos problemas propostos em 1900 em Paris por David Hilbert. Naquela ocasião, Hilbert, grande matemático da virada do século XIX para o XX, discursou sobre 23 grandes problemas não resolvidos da matemática. Por isso no ano 2000, o CMI decidiu lançar uma série de problemas sobre os quais os matemáticos consensualizavam serem os mais importantes. O autor do livro, Keith Devlin é gabaritado para falar do assunto pois fez parte da equipe responsável por escolher quais seriam os problemas mais importantes a serem resolvidos. Não fosse por Devlin ter se dedicado também a difusão e comunicação da matemática em livros anteriores tal como 'O Gene da Matemática', esse seria um livro extremamente difícil, pois alguns são problemas com que matemáticos lidam por mais de um século tal como a Hipótese de Riemann. Então, os problemas sobre os quais o livro trata não são para amadores. Devlin escolhe escrever o livro e apresentar os problemas por ordem de familiaridade começa pela 1. Hipótese de Riemann; 2. Teoria da Lacuna de Massa (Yang-Mills); 3. Problema P vs. NP; 4. Equações de Navier-Stokes, que um matemático alega ter resolvido, acho que ainda não deu tempo para o Clay Institute verificar a prova, essas coisas tomam um pouco de tempo e por isso anida não está no site do CMI como resolvida; 5. Conjectura de Pointcaré (a única que o instituto considera solucionada); 6. A conjectura de Birch e Swinnerton-Dyer; 7. Conjectura de Hodge. Enfim, o livro trata de problemas matemáticos bem difíceis, tanto que Devlin escrevendo nem parece crer que alguém poderá chegar ao final da leitura, fica toda hora recordando: "se você chegou até aqui...", na verdade essa pouca confiança no leitor é o que mais me irritou no livro, que de resto é muito bom interessante. Ressalto novamente que a proposta do livro não apresentar os problemas de forma que o desavisado leitor saia resolvendo os problemas, apenas fazer uma divulgação ampla da matemática de fronteira. O livro não exige do leitor conhecimento muito aprofundado de matemática além de um interesse honesto. Entre os livros que escolhi nessa seção esse foi um dos que mais me fez deitar a leitura e ficar pensando, os problemas não são fáceis, mas acho que Devlin alcançou seu objetivo, ao terminar o livro dá pra ter uma ideia boa do que tratam os problemas do milênio e o quê os matemáticos de ponta têm feito ultimamente. Isso não é um problema ou defeito do livro, mas eu acho que os problemas do milênio colocam muito foco sobre si, e existem uma série de outras áreas e problemas não resolvidos da matemática, tal como denota a medalha Fields, a qual o brasileiro Artur Ávila ganhou ano passado por seus trabalhos sobre a teoria do Caos (Legal de conferir também há um indiano trabalhando com problemas relacionados ao problema P vs NP, ele ganhou o Rolf Nevanlinna Prize). Enfim, para quem é honestamente interessado em matemática o livro é muito gostoso de ler e Keith Devlin conduz os capítulos muito bem. Em comparação com o livro das grandes equações que fiz resenha aqui no blog esse livro é um pouco melhor ou mais difícil pois trata de temas menos corriqueiros, mas porem menos abrangente.
Ed. Record, Preços: de R$ 58,41 pra cima (da Gradiva, não encontrei mais a edição da capa acima que é a que eu tenho); Avaliação: Muito Bom.
4. Os Pecados do Capital: o guia politicamente incorreto do Capital. Esse livro parece um pouco ter sido escrito por um dos porcos-espinhos do Tetlock, mas possui méritos. A proposta é apresentar ao leitor a perspectiva da economia austríaca sobre diversos assuntos econômicos. Porém as evidências do livro são anedóticas ou então com o uso de referências de outros economistas famosos. O prof. Robert P. Murphy é bem quisto entre os economistas de cunho libertário, suas credenciais são dos economistas e professores da área que atuam junto ao Von Mises Institute. A ideia do livro é partir do geral para o específico apresentando uma série de cases que mostram como o Estado atrapalhou a vida dos seus concidadãos, em alguns desses casos eu concordo, até sou simpático a perspectiva mais libertária, mas muitos outros casos as informações apresentadas por Murphy são questões de interpretação. Na verdade, para mim um ponto problemático com a escola Austríaca é que seus economistas são pouco afeitos a coleta de evidências (são em geral porcos-espinhos) depois eles creem demais no poder redentor do capitalismo. Ou seja de que a liberdade civil e econômica fornecem as únicas e exclusivas ferramentas para a prosperidade. "Por que a escravidão acabou?" -Por causa do capitalismo. "Como podemos resolver o problema do trânsito?" - Tudo bem, deixe que o capitalismo resolva. Enfim, se você é um economista com formação séria você pode dispensar de ler esse livro, pois as resposta em todos os capítulos é "O capitalismo resolve", pronto, sabendo-se disso você já tem a mensagem do livro. Um grande problema dos Austríacos (além do pouco apego a evidências contrárias que já comentei) é que a maioria deles não incorporou a teoria dos jogos, suas evidências e ensinamentos. Confiam demais na decisão descentralizada levando a um ótimo de Pareto. Mas a teoria dos jogos e das falhas de Mercado possui uma coleção de evidências mostrando que sim existem equilíbrios de Nash sub-pareto ótimos. Ou seja, há diversas situações que os austríacos falam que irão dar certo que desprezam interações importantes entre os agentes e que possuem peso. Eu gostaria mesmo que o mundo fosse simples como os austríacos gostam de pintar em diversos casos, mas não é. Um ponto em favor do livro e da doutrina é que muitas vezes o custo de intervenção é bem maior do que deixar o mercado funcionar (esse é um ponto que o pessoal de esquerda geralmente desconsidera). Se você comunga de uma ideologia de esquerda pode ser importante ler esse livro de mente aberta para ver que nem todos os argumentos em prol do governo são tão imediatos. Se você não é um economista formado, vem de outra área, também acho que a leitura pode trazer algo de útil, para um economista neoclássico sério, o livro tem pouco a acrescentar em sofisticação de análise. Para os que já são fãs da escola austríaca, vai aí uma advertência: "Cuidado, amigo, você pode estar entrando numa religião, tão perigosa quanto o socialismo marxista." Eu rogo mesmo que os austríacos fossem mais científicos e mais baseados em evidência, mas até hoje não encontrei nenhum nesse sentido, pode ser, de fato, um honesto desconhecimento, mas pode ser também (e isso o pessoal da escola tem de tomar cuidado) que a economia austríaca seja simplesmente inconciliável com os métodos científicos. E aí o livro cai na categoria de doutrinação e prazer anedótico. Mais liberalismo é bom, mas desde que fundamentado em evidências. Eu gostaria muito que meus amigos de esquerda lessem esse livro, para eles ele pode ter algo de útil, porém sei que ele atingirá leitores que comungam mais dessa corrente se tornando um worship perigoso.
Ed.: Saraiva. Preços: de 33,00 a 44,90. Avaliação: Dispensável.
5. Alex no País dos Números: uma viagem ao mundo maravilhoso da matemática. Esse livro é um pouquinho volumoso, mas talvez seja um dos de mais fácil leitura aqui da lista. É na verdade um livro de curiosidades matemáticas, e muitas delas são realmente curiosas. O livro faz um apanhado histórico da matemática e apresenta a teoria basal de muitos dos usos importantes da matemática. Curiosidades como o quadrado latino ou o Sudoku ou lei das probabilidades e suas aplicações. Outras como o maior número de casas decimais do número PI até hoje calculada, esses cálculos tem implicações computacionais importantes e os procedimentos para se chegar até ele são também interessantes. Também ajuda o leitor a desvendar os segredos do infinito, contando a interessante história de Cantor e o famoso hotel infinito de Hilbert. Finaliza o livro falando de superespaços de uma maneira curiosa. Enfim, é um livro com uma coleção de curiosidades matemáticas. A proposta é apresentar a maravilha dos números, dentro dessa proposta o autor conta alguns desenvolvimentos matemáticos interessantes, fácil leitura.
Ed.: Companhia das Letras, Preços de R$ 27,21 a R$ 47,00. Avaliação: Bom.
Enfim, vou parar por aqui, há outros livros bem interessantes na lista. Quem leu a última postagem do cardápio de leitura deve se lembrar de alguns livros que eu havia prometido. Bom, alguns destes aí passaram na frente, outros já terminei a leitura e há alguns mais interessantes para entrar. Espero que tenham aproveitado as resenhas e até o próximo cardápio.
Ed. Record, Preços: de R$ 58,41 pra cima (da Gradiva, não encontrei mais a edição da capa acima que é a que eu tenho); Avaliação: Muito Bom.
4. Os Pecados do Capital: o guia politicamente incorreto do Capital. Esse livro parece um pouco ter sido escrito por um dos porcos-espinhos do Tetlock, mas possui méritos. A proposta é apresentar ao leitor a perspectiva da economia austríaca sobre diversos assuntos econômicos. Porém as evidências do livro são anedóticas ou então com o uso de referências de outros economistas famosos. O prof. Robert P. Murphy é bem quisto entre os economistas de cunho libertário, suas credenciais são dos economistas e professores da área que atuam junto ao Von Mises Institute. A ideia do livro é partir do geral para o específico apresentando uma série de cases que mostram como o Estado atrapalhou a vida dos seus concidadãos, em alguns desses casos eu concordo, até sou simpático a perspectiva mais libertária, mas muitos outros casos as informações apresentadas por Murphy são questões de interpretação. Na verdade, para mim um ponto problemático com a escola Austríaca é que seus economistas são pouco afeitos a coleta de evidências (são em geral porcos-espinhos) depois eles creem demais no poder redentor do capitalismo. Ou seja de que a liberdade civil e econômica fornecem as únicas e exclusivas ferramentas para a prosperidade. "Por que a escravidão acabou?" -Por causa do capitalismo. "Como podemos resolver o problema do trânsito?" - Tudo bem, deixe que o capitalismo resolva. Enfim, se você é um economista com formação séria você pode dispensar de ler esse livro, pois as resposta em todos os capítulos é "O capitalismo resolve", pronto, sabendo-se disso você já tem a mensagem do livro. Um grande problema dos Austríacos (além do pouco apego a evidências contrárias que já comentei) é que a maioria deles não incorporou a teoria dos jogos, suas evidências e ensinamentos. Confiam demais na decisão descentralizada levando a um ótimo de Pareto. Mas a teoria dos jogos e das falhas de Mercado possui uma coleção de evidências mostrando que sim existem equilíbrios de Nash sub-pareto ótimos. Ou seja, há diversas situações que os austríacos falam que irão dar certo que desprezam interações importantes entre os agentes e que possuem peso. Eu gostaria mesmo que o mundo fosse simples como os austríacos gostam de pintar em diversos casos, mas não é. Um ponto em favor do livro e da doutrina é que muitas vezes o custo de intervenção é bem maior do que deixar o mercado funcionar (esse é um ponto que o pessoal de esquerda geralmente desconsidera). Se você comunga de uma ideologia de esquerda pode ser importante ler esse livro de mente aberta para ver que nem todos os argumentos em prol do governo são tão imediatos. Se você não é um economista formado, vem de outra área, também acho que a leitura pode trazer algo de útil, para um economista neoclássico sério, o livro tem pouco a acrescentar em sofisticação de análise. Para os que já são fãs da escola austríaca, vai aí uma advertência: "Cuidado, amigo, você pode estar entrando numa religião, tão perigosa quanto o socialismo marxista." Eu rogo mesmo que os austríacos fossem mais científicos e mais baseados em evidência, mas até hoje não encontrei nenhum nesse sentido, pode ser, de fato, um honesto desconhecimento, mas pode ser também (e isso o pessoal da escola tem de tomar cuidado) que a economia austríaca seja simplesmente inconciliável com os métodos científicos. E aí o livro cai na categoria de doutrinação e prazer anedótico. Mais liberalismo é bom, mas desde que fundamentado em evidências. Eu gostaria muito que meus amigos de esquerda lessem esse livro, para eles ele pode ter algo de útil, porém sei que ele atingirá leitores que comungam mais dessa corrente se tornando um worship perigoso.
Ed.: Saraiva. Preços: de 33,00 a 44,90. Avaliação: Dispensável.
5. Alex no País dos Números: uma viagem ao mundo maravilhoso da matemática. Esse livro é um pouquinho volumoso, mas talvez seja um dos de mais fácil leitura aqui da lista. É na verdade um livro de curiosidades matemáticas, e muitas delas são realmente curiosas. O livro faz um apanhado histórico da matemática e apresenta a teoria basal de muitos dos usos importantes da matemática. Curiosidades como o quadrado latino ou o Sudoku ou lei das probabilidades e suas aplicações. Outras como o maior número de casas decimais do número PI até hoje calculada, esses cálculos tem implicações computacionais importantes e os procedimentos para se chegar até ele são também interessantes. Também ajuda o leitor a desvendar os segredos do infinito, contando a interessante história de Cantor e o famoso hotel infinito de Hilbert. Finaliza o livro falando de superespaços de uma maneira curiosa. Enfim, é um livro com uma coleção de curiosidades matemáticas. A proposta é apresentar a maravilha dos números, dentro dessa proposta o autor conta alguns desenvolvimentos matemáticos interessantes, fácil leitura.
Ed.: Companhia das Letras, Preços de R$ 27,21 a R$ 47,00. Avaliação: Bom.
Enfim, vou parar por aqui, há outros livros bem interessantes na lista. Quem leu a última postagem do cardápio de leitura deve se lembrar de alguns livros que eu havia prometido. Bom, alguns destes aí passaram na frente, outros já terminei a leitura e há alguns mais interessantes para entrar. Espero que tenham aproveitado as resenhas e até o próximo cardápio.
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