domingo, 2 de agosto de 2020

O Longo Inverno - Acompanhamento dos Dados IV

São 159 dias desde o primeiro caso confirmado no Brasil e 139 dias desde o primeiro óbito confirmado em São Paulo. A Pandemia começa a enfraquecer neste final de Julho. Finalmente. Depois de algum tempo em que fiz minha previsão sobre o pico da pandemia, o país entrou em um demorado platô do número elevado de mortes. Embora para alguns estados como AM, PA e CE, o pico ocorreu de maneira não tão prolongada e de maneira mais curta, para vários estados populosos do Sul e Sudeste a pandemia se alastrou com uma dinâmica arrastada.

Os Estados Unidos também tiveram tiveram um platô demorado. Mais ainda, tiveram recentemente (no meio de Julho) recrudescimento dos casos e consequentemente das mortes por Covid-19. Lá eles estão no verão, nós aqui atravessamos o inverno, aqui para minha região especialmente frio.* Não se sabe exatamente como o clima influencia no comportamento do vírus mas se sabe que influencia nas doenças do trato respiratório e existe uma preocupação para a nova temporada de inverno no hemisfério norte que ainda irá começar ao terminar esse ano. Assim como é difícil saber como isso influenciou para a lentidão da queda por aqui na América do Sul, em especial, para o Brasil.

Valeria a pena os especialistas estudarem como grandes países com circulação irrestrita de habitantes terão uma epidemia de cunho mais demorado, isso porque o leva-e-traz do vírus será muito importante para o reaparecimento de casos em estados que estavam antes fechados. Outro ponto relacionado é que os Estados brasileiros onde a crise do coronavírus foi mais aguda (os destacados AM, PA e CE) estão em queda já há alguns dias. Rio de Janeiro apresenta queda muito fraca, talvez por conta da vizinhança com ES, MG e SP.

O acompanhamento mais recente dos casos está no gráfico 1 abaixo, nele agrupei as mortes a cada quatro dias como nas postagens anteriores. A intenção é a de dirimir (um pouco) o efeito da sazonalidade e ter uma resposta um pouco mais sensível do que o período de uma semana. Como novidade, apresento também o gráfico 2 que traz o mesmo princípio, porém no intervalo de 7 dias (uma semana).

Gráfico 1 - Número de mortes a cada 4 dias
Fonte: Dados oficiais do Ministério da Saúde, https://covid.saude.gov.br/ elaborados pelo autor. Atualizado 03/08/2020.

Gráfico 2 - Número de mortes a cada 7 dias (semanal)
Fonte: Dados oficiais do Ministério da Saúde, https://covid.saude.gov.br/ elaborados pelo autor.

Desde o começo da pandemia o crescimento do número acumulado de mortes se apresenta em queda, gráfico 3. Essa queda tem momentos de oscilação, como pode ser visto melhor no gráfico 4, como dito no começo do artigo são quase 160 dias desde a primeira morte confirmada no Brasil. Existe uma convergência dessa taxa e o estado de São Paulo segue recentemente a tendência de todo o país muito de perto (tanto que fica um pouco difícil de localizar a linha de SP no gráfico).

Gráfico 3 - Crescimento no número acumulado de mortes nos últimos 96 dias COVID-19

Fonte: Dados oficiais do Ministério da Saúde, https://covid.saude.gov.br/ elaborados pelo autor.

Gráfico 4 - Crescimento no número acum. de mortes nos últimos 96 dias COVID-19 (Detalhe)

Fonte: Dados oficiais do Ministério da Saúde, https://covid.saude.gov.br/ elaborados pelo autor.

Cabe, neste momento, rever a projeção para o número total de mortes até o final do ano. Na postagem do início de Junho mostrei como a projeção de 88 mil mortes da Universidade de Washington era até conservadora, chegamos em Agosto com um número de mortes superior em 7mil. Os modelos de previsão da pandemia são desafiadores eu coloquei esses três modelos em três cenários na tabela que reproduzo novamente abaixo:

Tabela 1 - Projeções do Número de mortes acumuladas por Covid-19 até o final deste ano
 TipoPessimista  Média  Otimista 
 Logarítmica 70.754.932  1.443.192  209.596 
 Linear   2.976.884    206.379   66.065
 Logística      210.000      95.000   80.000
Fonte: Projeções elaboradas pelo autor em 03/06/2020.

Aparentemente estamos caminhando para a previsão da logística pessimista ou da logarítmica otimista. O que me ajuda a sustentar isso é o gráfico 5 abaixo, veja como o crescimento do número acumulado de mortes para o Brasil está mais perto da linha vermelha do intervalo de confiança para o limite mínimo a 95%, a linha vermelha inclusive parece a nova linha média, isso indica que é hora de fazer uma nova correção dessa estimativa para ela ficar mais precisa (farei isso dentro de alguns dias).

Gráfico 5 -  Regressão para as taxas de crescimento de Óbitos, Brasil.
Fonte: Dados oficiais do Ministério da Saúde, https://covid.saude.gov.br/ elaborados pelo autor. Regressão elaborada pelo autor.

Já a curva logística otimista acompanhou bem os dados da pandemia no Brasil há duas semanas atrás, mais ou menos. Como o número de mortes até o final do ano já ultrapassou os 80 mil, a curva perdeu o ajuste por volta do 130º dia. Nesse caso, mudei para uma logística meio termo: não tão pessimista quanto apresentada pela tabela 1, mas que não é ainda a Logística Média, que será ultrapassada em poucos dias. Essa nova logística pode ser vista no gráfico 6 abaixo.**

Gráfico 6 - Curva Logística para o Total de Óbitos até o final do ano (nova projeção).
Fonte: Dados oficiais do Ministério da Saúde, https://covid.saude.gov.br/ elaborados pelo autor. Projeção elaborada pelo autor.


Essas postagens com muitos gráficos me dão um pouco de trabalho para serem realizadas e vou deixá-las, desta postagem em diante, um pouco mais esparsas. Farei uma postagem amanhã só com o gráfico da curva de mortes diárias pois ela traz uma boa ideia de como a epidemia está (e em qual fase) progredindo em cada estado e em breve, voltando ao plano econômico, pretendo fazer uma análise rápida de custo e benefício das opções de políticas que foram trilhadas ao longo dessa pandemia, vamos tentar entender o custo dessas escolhas. Continuarei acompanhando esses dados, mas com postagens menos frequentes, para não descaracterizar demais o blog e para me sobrar tempo para postagens sobre outros assuntos.


* Este ano, por conta do meu filho que ainda é um bebê nascido há poucos meses, eu tenho acompanhado a temperatura diariamente, especialmente no inverno. Estou tentando adivinhar quão fria será a noite. Não sei se por conta disso, estou achando o frio aqui na minha cidade rigoroso (e olha que estou medindo a temperatura dentro de casa), lá fora creio que devemos estar com mínimas perto dessa dessa média histórica do gráfico aí de baixo. Vasculhando sobre o assunto descobri que saber com precisão a temperatura de uma cidade pequena como Mariana não é tarefa fácil, fui no site do INPE e não achei os dados da estação mais próxima que fica aqui. Enfim, existem várias técnicas e no momento que escrevo o meu smartphone diz estar 11º (ontem em mesmo horário foi 8º).

Fonte: dados de 1982 até 2013 do site pt-climate.org, não coloco o link pois o site tem tanto anúncio que deu até um crash no meu navegador aqui ao usá-lo.

** Reparem que essa nova logística tem um ajuste no começo dos dados um tanto imperfeito enquanto que a anterior estava bem mais ajustada para essa parte. Isso ocorre porque a logística não foi muito bem talhada para um platô tão longo quanto o que nós estamos observando no Brasil. O 'S' da logística já é esticado, com um platô ele deveria ser mais "esticado" ainda, como se eu cortasse a perna de baixo e a de cima e colasse uma reta entre essas duas partes. A figura 1 abaixo dá uma ideia. A questão é que fazer uma especificação matemática para essa função daria um trabalhão muito grande e ainda ficaria difícil decidir o momento para "quando terminar a reta", dessa forma, melhor mesmo manter o formato da logística com algum ajuste ainda que imperfeito.

Figura 1 - Exemplo para adequar a Logística para um platô.
Fonte: Elaboração do próprio autor.

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