quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Encontro do NTA no CEDEPLAR apresentação do Prof. Ronald Lee

Pouco mais de um mês depois da simbólica data de nascimento do sétimo bilionésimo bebê,  no dia 5 de Dezembro, o Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares IEAT/UFMG trouxe o professor Ronald Lee, aclamado demógrafo da universidade de Berkeley, para falar sobre consequências do envelhecimento nos modelos de transferências de renda intergeracionais. Aproveitando a deixa, o CEDEPLAR organizou workshop do projeto NTA (National Transfers Accounts), trazendo também os professores Emílio Zagheni e Miguel Romero Sanchez do instituto Max Planck. O NTA é um esforço de unificar a contabilização para comparação internacional e assim observarmos comparação entre os países e entender as diferenças de como eles lidam com problemas como previdência, transferências de gastos para os dependentes, saúde, educação e muitos outros temas e assim propor modelos.

No Cedeplar o projeto NTA é coordenado pelo prof. Cássio M. Turra, e conta com importante participação dos prof. Bernado Lanza e a doutora Elisenda Perez. Os debates trazidos pelos palestrantes foram muito interessantes e na ocasião foi lançado o livro que se encontra no site do NTA.

Ronald Lee fez um panorama geral das transições entre os modelos de países ressaltando a questão das transferências intergeracionais e a repartição da origem das transferências de acordo com três informações: transferências diretas, rendimentos financeiros e rendimentos do trabalho. Maiores detalhamentos do trabalho podem ser encontrados  aqui. Emílio Zagheni trouxe interessante perspectiva da demografia digital com o uso de informações de e-mail para captar movimentos de migração entre países da Europa. Para isso ele usou a marcação de local de acordo com a procedência de e-mails, levando em conta que a conexão das pessoas é bastante perene. Quase não há, hoje em dia, situação de um migrante que não use sistema de e-mail, mesmo em viagem. Além disso o e-mail é pessoal, podendo quase que exclusivamente ligá-lo a pessoa e os seus vários locais de conexão ao longo do tempo. Miguel R. Sanchez apresentou modelos de simulação muito interessantes para captar.os efeitos da transição demográfica no crescimento econômico. Miguel estudou o caso de Taiwan que já passou por uma transição quase completa (uma transição nunca se completa de verdade) e encontrou um efeito de 22% de crescimento em 40 anos, é cerca de meio por cento de crescimento do PIB a cada ano. Pode parecer pouco, mas vale lembrar que é uma estimativa conservadora, pois efeitos da transição em outros aspectos como educação, produtividade, podem se somar, além disso ele calculou também efeitos na poupança líquida e taxa de investimento. 

Segue, então, vídeo da palestra proferida pelo professor Ronald Lee.

(parte 1)


(parte 2)


(parte 3 - Final)

Alguns Problemas Matemáticos Interessantes

Pessoal, algumas novidades do mundo econômico têm aparecido aí no fim de ano, algumas animadoras, outras nem tanto. Todos devem ter acompanhado a ascenção do Brasil para 6ª Economia mundial e visto os destaques da inflação, superávit primário e outros tópicos. Bom, como microeconomista que sou, não vou me concentrar nesses assuntos por hoje. Sobre a questão do 6º lugar, digo que é uma notícia boa e interessante, mas há bem pouco tempo, ainda no "Brasil-novo" pós 2003, estavamos em 11º. Enfim, se colocação de tamanho de PIB fosse indicativo de qualidade de vida para seus concidadãos a China já estava bem a muito tempo. A notícia é interessante para reforçar o tamanho de nossa economia.

Mas me concentro aqui em temas mais microeconômicos e matemáticos e alguns assuntos que aguardam um pouco para entrarem aqui no Blog. Um deles é um comparativo usando densidade relativa para saber qual é o melhor disco dos Beatles. Qual é o seu preferido?! Outro assunto nesse tema, e por vir aqui, é uma aplicação estatística ao problema de detecção de comportamentos diferentes: "o problema do chefe". Outro é um joguinho de Sodoku que fiz para o R, ainda não está pronto, pois meu algoritmo tenta achar um jogo válido entre os zilhões de jogos possíveis! A idéia do meu algoritimo é achar primeiro uma solução e depois cobrir os números de acordo com a facilidade que o jogador desejar. O fácil deve cobrir poucos números, o médio um pouco mais e assim por diante. Li em algum lugar que o Sudoku super profissional conta com apenas 16 números no grid inicial.  Os interessados já podem encontrar o jogo em um pacote "Sudoku" já disponível no R. Pelo menos a janelinha do meu sudoku (a da foto acima) é mais bacana. Quem não tem costume de usar o R e mesmo assim quer jogar um Sudoku e gerar jogos veja aqui nesse site.

Mas o propósito desse post no momento é convidá-los a conhecer o Problema do Casamento Estável (um joguinho muito interessante e didático), também conhecido como problema da dança de salão, desenvolvido pelo professor David Gale (1922-2008), da foto aí do lado, mais particularmente o algoritmo Gale-Shapley proposto em artigo de 1962. O problema consiste em alocar as pessoas de acordo com suas preferências da melhor maneira possível para os proponentes e que não dê empate. Imagine um salão de dança com o mesmo número de homens e mulheres. Esse problema envolve a escolha de um parceiro para a dança de acordo com as preferências. Suponhamos que os homens convidem primeiro as mulheres para dançar, então os homens propõem primeiro à mulher preferida. Mas e se mais de um homem convidar a mesma mulher para dançar? Então a mulher terá opção de escolha de acordo com as suas preferências. O problema pode ser invertido, com as mulheres propondo primeiro. O interessante é que nem sempre as soluções serão idênticas, o grupo que propõe primeiro tem maior chance de estar melhor, no mínimo estará igual a situação em que o outro grupo propõe. Um dos principais nomes nessa área é a profa. Marilda Sotomayor da faculdade de economia da USP que desenvolveu essa área, um dos seus artigos mais importantes é com o prof. Gale. Além disso é co-autora com Alvin Roth, outro nome importante da área, do livro "Two-Sided Matching: A Study in Game Theoretic Modeling and Analysis".

Há poucos dias meu orientador, o prof. Eduardo Rios-Neto, me propôs lidar com esse problema para vermos uma questão de como são alocados os alunos de escolas públicas, uma aplicação importante que procura responder: "Será que podemos melhorar nosso ensino alocando melhor os estudantes?". E me debrucei a tentar o algoritmo na linguagem R, que tenho mais familiaridade. Hoje postei o resultado disso no R-Nabble, comunidade para usuários e desenvolvedores do R-project. Convido a todos que tiverem interesse, e lidam com o R, a me ajudarem e melhorar o algoritmo. É importante testá-lo para novos desenvolvimentos da aplicação de alocação de alunos entre escolas.

Um exemplo interessante de aplicação é a dissertação de Felipe Bardella mestrado da USP. Em que ele estudou a relação de preferências que os alunos candidatos da ANPEC faziam para o exame e os resultados da seleção. Suas conclusões levam que o mercado da ANPEC passou por um tempo de aprendizado e que se trata de um mercado descentralizado com solução próxima a do algoritimo NRMP. Os centros mais bem rankeados tem maior facilidade em fazer valer sua ordenação de preferências sobre os candidatos, os demais centros tem mais dificuldades o que insere maior instabilidade do processo para eles. Uma sugestão da dissertação de Bardella não foi ainda adotada pela ANPEC. Adoção de uma listagem maior do que 6 centros que é atualmente feita. 

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Notícia de Hoje sobre a Dívida de Minas

Pessoal, apenas uma nota curta relacionada ao post anterior, escutei na CBN hoje e está sendo veiculado no Diário do Comércio que o governo acertou com o banco Crédit Suisse um empréstimo de 6,45 bilhões de reais. O estado pretende usar esse dinheiro para pagar sua dívida mais cara que é com a CEMIG, relatada pelo prof. Fabrício no post anterior, esse é um bom movimento. Ainda precisará de dinheiro e contará com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (a CBN citou Banco Mundial, não sei se os dois ou se apenas uma das informações procede). Esse é um movimento interessante já que o juros no resto do mundo são ainda bem mais baratos que os nossos por aqui. E que a dívida da CEMIG era corrigida pelo IGP-DI + mais juros reais de 8,18%. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Artigo do Prof. Fabrício Augusto sobre a dívida de MG

Caros, o informativo de divulgação "Agênda Econômica" do Corecon-MG, trouxe na sua penúltima edição (Setembro/11) um artigo do Fabrício Augusto de Oliveira, economista especialista em Finanças Públicas. O artigo é bastante explicativo e interessante, ele dá as perspectivas de pagamento (ou insolvência) do estado de Minas Gerais. O assunto ainda é quente pois não só Minas Gerais, mas outros estados estão pleiteando nova renegociação da dívida. Em um quadro de futuro desaquecimento, volta da inflação e eleições municipais do próximo ano, o tema coloca as negociações de governos dos Estados e o Federal em um dilema de cruz e espada. Segue abaixo o artigo completo.  

"A dívida do estado de Minas Gerais: “Choque de Gestão” para não torná-la impagável

Fabrício Augusto de Oliveira(*)

A dívida contratual do governo do estado de Minas Gerais saltou de R$ 18,5 bilhões, em dezembro de 1998, para R$ 64,5 bilhões, em dezembro de 2010. Em termos reais, Isto é, descontada a inflação, a dívida cresceu, neste período, 15%, o que significa um crescimento anual de 1,15%. Um crescimento apreciável, considerando o fato de que, desde a implementação do programa “Choque de Gestão”, os déficits públicos, em Minas Gerais, de acordo com o governo, deixaram de existir.

A dívida pública só aumenta por quatro motivos: a) para cobrir desequilíbrios orçamentários provocados por gastos primários correntes superiores às receitas; b) para a realização de investimentos para os quais não se conta com recursos orçamentários suficientes; c) para o refinanciamento da dívida e de seus encargos; e d) para a cobertura de passivos imprevistos que surgem e para os quais também não se conta com dotações orçamentárias.
A partir do contrato da dívida com a União, o estado de Minas ficou proibido de contratar novas operações de crédito, o que só voltou a ocorrer em 2006, quando se enquadrou no limite de endividamento estabelecido pela Resolução 40, de 2001, do Senado Federal. De lá para cá, ou seja, até 2010, realizou novas operações de crédito no montante de R$ 3,7 bilhões. Se, apenas para simplificarmos, deduzirmos este montante do estoque da dívida, ainda assim restaria um saldo de R$ 60,7 bilhões.
Por outro lado, como o estado vem registrando superávits primários desde 1998 e o surgimento de passivos contingentes (reconhecimento de “esqueletos”) não tem sido expressivo, este crescimento se explica, predominantemente, pelo refinanciamento da dívida e de seus encargos (ou seja, pelo seu serviço), embora tais informações não possam ser obtidas apenas pela leitura de orçamento, já que este, devido a uma contabilidade peculiar que começou a ser feita após a renegociação da dívida com a União, não contabiliza esses valores.
Na atualidade, são dois os principais credores da dívida contratual do estado: a União, que detém 85% de seu total, e a CEMIG, com 8%. A dívida com a União, que, em dezembro de 2010, montava a R$ 54,8 bilhões, é corrigida pelo IGP-DI + juros reais de 7,5%. A dívida com a CEMIG, que atingiu R$ 5 bilhões no mesmo ano, tem custos ainda mais altos: IGP-DI + 8,18%. Para a União, o estado é obrigado a destinar 13% de sua Receita Líquida Real (RLR) para o pagamento de seus encargos, sendo o restante que não é pago (o resíduo) incorporado diretamente ao seu estoque. Para a CEMIG, o acordo prevê o pagamento de um percentual dos dividendos recebidos da empresa pelo estado para sua amortização.

Em nenhum dos casos, os pagamentos feitos conseguem, nem de longe, cobrir os encargos anuais. No caso da União, o estado efetuou o pagamento de R$ 3,1 bilhões em 2010, mas deixou de pagar cerca de R$ 6
bilhões, fazendo a dívida saltar de R$ 48,7 para R$ 54,8 bilhões. No da CEMIG, o estoque da dívida aumentou mais de R$ 700 milhões no ano, fazendo o seu estoque avançar para R$ 5 bilhões. 

Para interromper essa trajetória de crescimento explosivo da dívida do estado, tornando-a impagável, o governo deveria contemplá-la, também, com um verdadeiro “choque de gestão”: a realização de uma renegociação séria com o governo federal para reduzir seus custos (indexador e juros) e também com a CEMIG (uma dívida ainda mais cara), não descartando, também, a alternativa de trocá-la por outra dívida menos onerosa. A população agradeceria."

(*) Doutor em economia pela Unicamp, Professor do programa de mestrado em Administração Pública da Fundação João Pinheiro, Conselheiro do CORECON-MG, é autor, entre outros, do livro “Economia e Política das Finanças Públicas no Brasil”.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Durma-se com um tilintar desses (Money)

Money! O XKCD fez uma ótima tirinha-infográfico da circulação de de dinheiro nos EUA e no Mundo. Eu digo que o fluxo circular pode ficar bem mais complicado e os alunos não acreditam.

http://xkcd.com/980/huge/#x=-5264&y=-1680&z=2

domingo, 20 de novembro de 2011

Cardápio de Leitura II (Resenhas de Livros de Economia, ou Quase)

Bem, está em tempo de começar mais um cardápio de leitura. Colocarei aqui os livros mais significativos lidos por mim mais recentemente. Ao contrário da primeira lista, que era mais voltada para livros de economia, a presente lista é um pouco mais aberta aos temas de estatística, matemática e filosofia. Acaba que envolve, mesmo que lateralmente, bastante de economia. Cabe deixar claro que o propósito da lista é o orientar a leitura (ou eventual compra) para os seguidores do blog e demais passantes interessados. E que as resenhas aqui postas possuem total viés de minha opinião, caso não concorde, procure outras resenhas "vendidas" no mercado.

Relembrando que a ordem de classificação é a seguinte:

Essencial > Muito Bom > Bom > Dispensável > Deplorável

A ordem de aparição segue a ordem de leitura desde a última resenha. Os mais recentes primeiro. Ao final, seguem discriminados três livros que ainda não estão concluídos, mas que coloco pois estão me parecendo interessantes. No entanto, o veredicto final com a classificação será dado apenas em uma próxima resenha. Pra finalizar segue a lista de espera, tal como fiz na última postagem. São muito bem vindas as sugestões. Algumas delas dadas por amigos ainda aguardam leitura.

Enfim, espero que gostem e seja útil:

1. Logicomix: Não é tão inusitado um quadrinho aparecer por aqui dado que sou fã da nona arte. Mas também não é inusitado em se tratando do tema e da condução da obra. Os autores deixam claro já no começo que a obra se pretende mesmo ser contada nesse meio e que os leitores não se enganem para não achar que é um livro do tipo: "Lógica for dummies". O roteiro é de Apostolos Doxiadis com ajuda de Christos H. Papadimitriou, dois autores gregos. Os desenhos são de outro grego: Alecos Papadatos e uma colorista francesa: Annie di Donna, dois artistas muito eficientes, o trabalho ficou primoroso. Logicomix foi minha última leitura de um dia só, apesar de suas 347 páginas (com referências). O tema é a busca da verdade por trás dos fundamentos lógicos da matemática. Para contar essa história os autores usam o percurso de vida do matemático e filósofo inglês, Bertrand Russell (novamente o Bertie aparece aqui nas resenhas) e na sua busca por conseguir provar os axiomas euclidianos e o enigma mais fundamental da Aritmética: 1 + 1 = 2. A Jornada é épica, os personagens beiram o trágico, e as dificuldades conceituais e filosóficas são tratadas com enorme eficácia. O livro narra toda a história da lógica desde os meados do século XIX até a metade do século XX, trazendo seus avanços e grandes consequências para a vida das pessoas envolvidas e das pessoas em geral. Os autores tiram algumas licenças quadrinísticas para deixar a história mais envolvente e eficaz, mas se atêm aos fatos e aos problemas envolvidos nessa busca da verdade. Dentre os personagens que aparecem no livro estão Whitehead, Wittgenstein, George Cantor, Boole, Kurt Gödel, o famoso círculo de Viena, de onde veio Von Neumann. Aparecem também Poincaré, David Hilbert, Peano, Gottlob e vários outros personagens importantes para a Lógica e a matemática do início do século XX. Além de menções a vários autores importantes, assim como aplicação rigorosa de conceitos. Tudo isso pontuado com algumas linguagens metalinguísticas dos autores e a Grécia contemporânea, que deixa um resultado final ainda mais interessante. Enfim, uma obra-prima que merece ser lida por quem se interessa pelos fundamentos axiomáticos da matemática e os limites de conhecimento científico. Alguns críticos estão rotulando como a melhor HQ de não-ficção dos anos recentes, não sei se o rótulo de não-ficção se encaixa, pois há algumas liberdades ficcionais de roteiro, e na verdade esse rótulo não interessa tanto para quem está voltado para o assunto. Ed.: Martins Fontes. Preços de R$ 39,25 (Promocional) à  R$ 69,00. Avaliação: Essencial.

2. As Grandes Equações:  Acho que antes de começar a falar sobre o livro vou elogiar um pouco aqui o catálogo da Zahar que está de parabéns. O nome da editora está quase funcionando como um selo de boa compra, parabéns a escolha editorial, espero que continue assim. A Zahar é uma editora de alguns anos de estrada com histórico de bons títulos. Mas desconheço porque motivos ela andou na segunda metade dos anos 90 e início dos anos 2000, totalmente sumida. Dê uns anos pra cá (uns 5-6 anos) ela ressurgiu com excelentes títulos no mercado. Quem tiver mais informações precisas sobre a editora pode me corrigir. Pois bem, a proposta desse livro cujo o autor é o físico-filósofo historiador da ciência Robert P. Crease, é apresentar ao público geral as 10 equações mais importantes da ciência. Crease tem uma bom fio condutor que não é só o de contar as histórias por trás dos personagens das equações (o que é muito comum nesse tipo de livro), mas tem também o compromisso de deixar claro ao leitor grande parte das idéias que embarcam aquelas grandes equações. Eu corrigiria um pouco Crease e já dou um aviso ao leitor interessado: Ciência para esse livro significa Física, como se ela fosse a única ciência importante. Com exceção da equação de preâmbulo, a tal 1 + 1 = 2 (onde novamente aparecem Whitehead e Russell), que é só um aperitivo e não entra na contagem de Crease, e as conhecidas equações de 1) Pitágoras: h² = a² + b²; e 4) Euler: e +1 = 0, estas são as duas únicas exclusivas da matemática, as demais oito equações são todas da física, a saber: 2) Segunda Lei de Movimento de Newton: F = ma; 3) A Gravitação universal: Fg = Gm1m2/r²; 5) Segunda Lei da Termodinâmica: S' - S > 0; 6) As Equações de Maxwell: aqui; 7) A celebridade na forma de equação: E = mc² (aliás esse capítulo é excelente, uma resenha do mesmo livro na net que enfoca em particular essa equação está aqui); 8) A equação da relatividade geral: Gim = -k(Tim - ½gimT); 9) A Equação de Schrödinger: aqui; 10) O princípio da incerteza de Heisenberg: ΔxΔp > h/2. Mas o fato de se concentrar nas equações importantes da física não torna o livro menos importante, pelo contrário, para o leitor bem interessado, é possível puxar a memória das aulas de física e realmente acompanhar o raciocínio que levaram àquelas equações. Isso é mais bem executado em uns capítulos do que em outros. Os capítulos 1 a 4 são muito compreensíveis sem maiores explicações. Os capítulos da termodinâmica e eletricidade são muito interessantes, mas Crease se perde tentando fazer uma analogia com um palco Shakespeariano, porque são muitos os atores responsáveis, mas ficou meio enfadonho e ele não vai fazer muita força para explicar as coisas nesse capítulo. O capítulo de Maxwell é bom, as imagens funcionam, mas o leitor fica sem saber (ou custa a relembrar com as parcas aulas de física Eletrodinâmica do 3º ano) o que são de fato as equações que estão lá. O mesmo não acontece com o capítulo do E = mc² que é extraordinário. Se vc quer saber interpretar a famosa equação esse é o livro. Os capítulos finais são bem conduzidos, mas Crease vai novamente fazer menos força para o leitor entender as equações, apesar de continuar tentando. Mesmo assim, foi uma das melhores coisas que já li sobre mecânica quântica (muito melhor que o obscuro "Quem somos nós"). Outra pequena correção eu faria que essa coisa de rodapé em final de livro eu sou geralmente desfavorável, principalmente quando o autor usa muitos e para quem gosta de lê-los, mas nada que comprometa. E há uma parte em que o autor fala brevemente de ciências humanas meio que na defensiva e como um alerta para os cientistas sociais serem mais mente aberta e superarem a sua falta de conhecimento técnico, que ele chama de "anosognosia". Como exemplo, Crease fala de um livro de popular de História nos EUA que não tem nenhuma menção aos grandes avanços da ciência que mudaram as vidas de mais gente do que as guerras, conflitos, intrigas políticas e etc. Todavia, não dá pra entender 100% porque Crease coloca esse interlúdio no final de um dos capítulos. É uma alerta, mas sem dizer mais sobre isso, ele seria um tanto dispensável. Enfim, o livro é muito gostoso de ler. Pensei se não seria legal ter uma versão para as equações da economia. Quais seriam as 10 equações essenciais? Ed.: Zahar. Preços de R$ 21,82 até R$ 42,00. Avaliação: Muito Bom.

3. Uma Senhora Toma Chá: Mais um livro da Zahar e de título bem curioso. Não contarei aqui o por quê desse título pois senão perde a graça, só adianto que o autor conta a história logo no início e, por incrível que pareça, o título tem a ver com estatística. Diferente do outro livro da mesma editora que trata do mesmo assunto: "O Andar do Bêbado", que também resenhei aqui, a abordagem do estatístico e autor David Salsburg é mais cronológica. Não por isso se torna menos interessante, enquanto "o Andar do Bêbado" apresenta uma abordagem mais voltada para problemas conceituais e algumas curiosidades à favor do acaso. Salsburg constrói internamente a evolução da ciência estatística. O autor tem propriedade para falar pois "viveu" grande parte das revoluções dessa relativamente jovem ciência. Não faltarão também curiosidades para deleite dos estatísticos profissionais e semi-profissionais. Descubra quem é a pessoa por trás do t-Student, como eram feitas as contas no tempo anterior ao computador e como os pequenos computadores mudaram isso tudo. O subtítulo já diz: "como a estatística revolucionou a ciência no século XX". São muito interessantes as apresentações das mudanças de interpretação envolvidas nas correntes teóricas que vão desde Pearson, Fisher, e Kolmogorov, por exemplo,  à Wald, Tukey, Box e Efron, para novamente mencionar apenas alguns. O livro não traz apresentações formais e nenhuma equação, apenas as idéias por trás das evoluções. O propósito é apresentar os personagens e os problemas que moveram as perguntas científicas relacionadas à Estatística. O Panorama que Salsburg traça é bem abrangente e vem até os anos bem recentes do desenvolvimento da estatística. A precisão conceitual e os fatos curiosos são mais interessantes e mais agudos até meados dos anos 70, e um pouquinho dos anos 80. A partir daí o livro não tem como abordar a vertente caudalosa de pesquisas realizadas, seria necessário outro livro. Mas é muito relevante, aprendi bastante com as histórias por trás das fórmulas que aprendemos no dia a dia. Para os economistas, há especial menção à participação importante de Gertrude Cox na elaboração de dados de emprego e dados dos censos dos Estados Unidos e seu papel importante no NBER, assim como menções muito especiais à tese de doutorado do Lorde M. Keynes, a qual Salsburg considera que deveria ser cogitado em maior apreço sobre suas teorias em probabilidade que são quase esquecidas por boa parte dos economistas. Ed.: Zahar. Preços de R$ 35,91 à 49,90. Avaliação: Essencial.

4. Uma Breve História da Economia: O autor desse livro, Paul Strathern, é uma daqueles escritores profissionais voltados e especializados em escrever biografias históricas voltadas para o público geral. Já escreveu "Filósofos em 90 minutos" e uma série de outras "Breves Histórias" e livros rápidos. Mas acho que Strathern fez aqui um bom trabalho. O livro então peca por oferecer algumas abordagens rápidas e ao contrário dos outros que eu resenhei acima, ele parece se importar mais com as excentricidades de caráter dos economistas mencionados. Assim ele não poupa as esquisitices engraçadas do Adam Smith indo tomar banho de mar de roupa para se tratar dos problemas respiratórios, ou da pindaíba já muito conhecida e documentada pela qual viveu toda a vida o Karl Marx, assim como os sucessos comerciais de David Ricardo e alguns fracassos do Lord Keynes. São muito interessantes e curiosas as anedotas e as análises da psiquê de John Von Neumann, aliás, personagem que abre e fecha o livro. Mas pode se fazer uma concessão já que tudo isso deixa o livro divertido. A análise econômica é ora boa e ora mais fraca, em diversos pontos ela chega a ser consistente e interessante. No que tange aos aspectos conceituais positivos, o livro acerta na análise dos fisiocratas e da relação destes com as ciências médicas e de circulação de moeda comparativa ao que se pensava da circulação sanguínea. A análise sobre Hume é um tanto superficial, mas é boa para fins práticos do livro. O ponto alto em termos de análise trata-se da revolução propiciada por John Law, o homem que inventou o sistema financeiro moderno, enriqueceu e logo depois quebrou a França ajudando a acelerar a revolução de 1789. Este livro não traz nenhuma análise econômica mais pormenorizada, seu ponto é contar a história de personagens com curiosidades divertidas que de certa forma influenciam sim na teorização dos problemas em questão. Se seu propósito é uma leitura agradável sobre a vida e pensamento desses personagens, o livro é uma boa leitura e conceitualmente correto (ou não tem nenhuma falha muito grave que eu me lembre ou possa notar). Se o objetivo é procurar por aprofundamento conceitual e histórico, há alguns livros mais completos disponíveis. A vantagem para o livro acima é que nenhum será tão breve. Ed.: Zahar. Preços de R$ 22,15 à R$ 42,90. Avaliação: Bom.

5. Cartas a um Jovem Economista: Gustavo Franco parece ter descoberto um filão editorial. Acho que ele é um bom autor, a compilação feita com Economia em Pessoa mereceu a nota máxima aqui deste blog, mas logo depois desse já apareceram "A Economia em Machado de Assis" e "Shakespeare e a Economia", em parceria com Henry W. Farnam. A rapidez desses lançamentos me fez torcer o nariz quanto a possível qualidade editorial, não que eu duvide que eles possam ser interessantes, ainda não os li. Mas a editora Campus vai ter de me perdoar, eu tenho uma Restrição Orçamentária justa, não posso comprar essas aventuras editoriais. Até que é bem conhecido o personagem Shylock do Mercador de Veneza, muito mencionado sobre a questão do juros, mas não sei que muitas novidades esses livros podem trazer. Ponto favorável para um eventual interesse em "A Economia em Machado de Assis" é que Franco é um especialista no período conturbado das políticas macroeconômicas da república velha, período sobre o qual Machado discorre em ensaios e até mesmo em alguns dos seus livros. Bom, mas falemos do Cartas, o livro deveria se chamar cartas a um jovem macroeconomista pois Franco vem novamente contar histórias sobre o Real e o processo inflacionário brasileiro que ele já veio a contar em vários outros livros tais como "O Plano Real e outros Ensaios", enfim, o livro é muito curto, não tem profundidade e fala mais do mesmo. No final há uma tocante homenagem ao jovem e promissor economista Gabriel Buchmann que faleceu enquanto excursionava no Malawí na África do Sul. Gabriel viajou antes de se preparar para o doutorado nos EUA para o qual teve aceite de duas ou três importantes universidades e a viagem era uma importante jornada para o conhecimento dos povos que viviam na pobreza da África. A homenagem seria mais tocante se o livro fosse mais compromissado e relevante. Segue uma entrevista do G. Franco sobre o lançamento do livro e assuntos relacionados. Ed.: Campus. Preços de R$ 23,31 à R$ 29,90. Avaliação: Dispensável.

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Livros que estão sendo lidos e em breve contarão com resenhas:

6. The Mostly Harmless Econometrics: Livro do Joshua D. Angrist e Jorn-Steffen Pischke dois importantes autores da área. Li só os primeiros dois capítulos que são muito interessantes por trazerem uma linguagem muito boa da interpretação dos métodos experimentais de comparação em econometria. Aguardo com boas expectativas a finalização desse livro.







7. Os Pecados do Capital: Esse é um livro mais doutrinário, para o qual é preciso de um pouco mais de cuidado ao ler. Li algumas poucas partes que trazem os argumentos já conhecidos dos economistas austríacos como é o Robert P. Murphy, autor do livro. Mas ainda assim, deve ser uma leitura fácil que em breve terá também resenha.





8. O Espírito Animal: Comprei a versão em inglês desse livro e creio que é o que estou com a leitura mais avançada, porém tive de parar e não retomei. Desde o ano passado ele já ganhou versão em português da Campus. Estou achando bem interessante e fala sobre os avanços das descobertas comportamentais influenciando a economia. O famoso Animal Spirits.





Livros na Lista de Espera do cardápio de leitura (várias sugestões dos amigos na postagem anterior estão penduradas aqui): Alex no País dos Números de Alex Bellos, A Whole New Mind do D. Pink, Teaching Economics de William Becker, Michael Watts e Suzanne Becker (orgs), Salvando o Capitalismo dos Capitalistas de Rajan e Zingales, O banqueiro dos Pobres de M. Yunus, Alan Greenspan, Sob a Lupa do Economista de Carlos E. Gonçalves, A revolta de Atlas de Ayn Rand, Descubra Seu Economista Interior de Tyler Cowen, o Mito dos Mercados Racionais de Justin Fox, o Superfreakonomics e Almanaque das Curiosidades Matemáticas de Ian Stewart.


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

E o TRI apareceu na TV!

Não, não estou falando de nenhum tri-campeonato de algum time de futebol ou de algum outro esporte, mas sim do método de Teoria de Resposta ao Item (TRI) que foi ao ar no Jornal Nacional da rede globo para explicar a metodologia para obtenção das notas do ENEM. O caso vem à tona após uma escola de Fortaleza ter tido acesso prévio à 13 questões do exame. Recentemente, uma juíza do Ceará decidiu pela anulação das 13 questões. Não sei qual a melhor das soluções para esse caso, no entanto, tenho tendencia em pensar que seria melhor mesmo a aplicação de nova prova para toda a cidade de Fortaleza, de acordo com o que consta na metodologia do TRI.

O problema do ENEM é que, apesar de ser composto pela metodologia da TRI, ele objetiva sim, comparar os estudantes individualmente, pois vem sendo usado para o vestibular e os alunos têm muito interesse em suas notas. Isso desvirtua os propósitos do método que não é o de comparar o desempenho individual mas sim o desempenho de grupos.

Recentemente, fiz legendas para o vídeo sobre o PISA da OCDE que usa o mesmo método, porém, com pequenas particularidades. Em 2010, falei aqui neste blog dos resultados recentes de 2009 para o Brasil no PISA. O vídeo abaixo é bem instrutivo e explica para o público geral os objetivos dessa comparação internacional de estudantes pelo método do TRI. O vídeo possui 12 minutos, é muito bem ilustrado e instrutivo, espero que gostem.


Os clamores do prof. Tufi Soares para um banco maior de questões é muito importante. Para os especialistas que desejam e se interessam pelas técnicas, os relatórios aprofundados da metodologia são interessantes: relatório e o manual do método.

Curtam! 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O Novo IMRS - Índice Mineiro de Responsabilidade Social

A Fundação João Pinheiro lançou no último dia 18 de Outubro o novo Índice Mineiro de Responsabilidade Social, coordenado pela pesquisadora Maria Luiza de Aguiar Marques. O Índice é uma composição de diversos indicadores das áreas de Saúde, Educação, Renda, Segurança Pública, Assistência Social, Cultura e Esportes e informações financeiras dos municípios de Minas Gerais.

De minha parte, contribuí auxiliando os colegas Fernando Martins Prates e Bruna Duarte Matias na confecção do Índice de Qualidade da Educação (IQE), desenvolvido pelo Francisco (Chico) Soares da UFMG. Recentemente, temos trabalhado arduamente nesse índice para aperfeiçoá-lo e incorporar-lhe outras dimensões em artigo que neste mês estará pronto.

Os interessados poderão baixar o programa no site da Fundação no link. O IMRS de 2011 teve grandes avanços em relação a versão anterior de 2009 e possui os dados mais recentes do censo de 2010 do IBGE. Mas nos parece que algumas versões são ainda incompatíveis com o sistema operacional do windows 7. Caso encontre problemas com a utilização do software, ou para o esclarecimento sobre dúvidas não encontradas no programa ou metodologia, entre em contato pelo e-mail: victor.maia@fjp.mg.gov.br que tentarei respondê-las ou encaminhá-las aos colegas da Fundação coloboradores deste trabalho.




 

sábado, 8 de outubro de 2011

E não era previsível?!

Inflação acumulada de 12 meses encontra-se em 7,3%. Hoje, o ex-colega de Fundação João Pinheiro Reginaldo Nogueira, agora no Ibmec-BH, apareceu em matéria do jornal Folha de S. Paulo (assinantes, não assinantes: aqui) comentando que se trata de uma inflação generalizada. Em contraparte, a Folha entrevista o presidente do Banco Central: Alexandre Tombini, acho que sai amanhã. A meta já foi estourada, se a taxa de inflação for zero em outubro, novembro e dezembro, a inflação do IPCA esse ano já fica em 5,8%. Seria preciso que ela fosse cerca de -0,6% nos três próximos meses para alcançar o centro (missão impossível). Se otimisticamente ela for igual à média dos últimos 9 meses (0,54%) chegaremos ao fim do ano com 6,68%, passando só um pouco o teto de 6,5%. O problema é que vêm aí os meses mais aquecidos, se repetirmos as inflações dos três últimos meses de 2010, o limite superior da meta é bem estourado e a inflação será de 7,3%, coincidência?! É exatamente a nossa acumulada.

Fonte: IBGE IPCA-mensal, do site www.ipeadata.gov.br; Para Set, Folha de S.P. e demais cálculos c/ base 1 para 01 de Jan.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Um pequeno modelo de Eficiência nas Universidades

Hoje foi divulgado a classificação das universidades Latino Americanas na QS, uma organização voltada a comparar instituições de ensino em todo mundo. A metodologia deles envolve diversos aspectos, uma classificação geral comparativa que eles chamam de reputação acadêmica, citação dos artigos, "paper citation", pesquisa de percepção dos estudantes e até número de ocorrências na web (web impact). 

Eu mesmo respondi esse ano à pesquisa dirigida aos estudantes. Respondi o questionário pela UFMG, onde agora faço doutorado. Na classificação da América Latina a UFMG ficou em 10º lugar, e na classificação do Brasil em terceiro, atrás apenas de USP e Unicamp, e logo acima da Universidade Nacional de Brasília (UnB, onde me graduei em economia).

Ranking de Algumas Universidades Brasileiras (de acordo com o QS):

1º  USP             11º UFPE
2º  Unicamp         12º UFSC
3º  UFMG            13º PUC-SP
4º  UnB             14º UFPR
5º  UFRGS           15º UFBA
6º  PUC-Rio         16º UFSC
7º  UNESP           17º UERJ
8º  UFRJ            18º UFV
9º  PUC-RS          19º UE Londrina
10º UFSP            20º UE Pelotas

Ao vermos esses rankings de instituições sempre surge a necessidade de relativizá-los e fica aquela pergunta: "Quem faz melhor com os recursos que tem?" Isso diz muito a respeito sobre a eficiência das universidades, pois é sabido que USP e Unicamp são as que possuem mais recursos. Em uma lista de economia, um colega rapidamente levantou os gastos das seis universidades abaixo (tenho ainda de conferir a fonte, para a Federal de Viçosa peguei informações da lei orçamentária de 2012, pois pareceu um valor mais próximo do realizado nas outras). No site do INEP, consegui as matrículas da graduação de 2009. Ao aliar com a nota do ranking temos os seguintes dados:

Tabela de Dados, 2 outputs e 1 input:
Fonte: ver arquivo excel.

Com esses dados é possível construir um modelo de eficiência de análise envoltória bem simples (DEA - Data Envelopment Analysis). Aplicando uma escala de rendimentos constantes, com poucas observações e poucos produtos e insumos, é relativamente prático construir o gráfico em uma planilha de excel. Como os valores são diferentes o gráfico tem o logaritmo dos valores multiplicados por 1.0E+8. O gráfico da fronteira de possibilidades de produção fica:

E dessa forma temos o seguinte ranking de eficiência (orientação produto):

UFRGS   = 1.00
UFV     = 1.00
UFMG    = 0.99
UFRJ    = 0.98
UnB     = 0.97
USP     = 0.90
Unicamp = 0.87

O ranking de eficiência é interessante por mostrar quem faz mais com menos. Ele ajuda nas comparações custo-benefício, ou melhor dizendo: insumo-produto. No caso, quanto melhor a qualidade dos insumos e produtos que se tem em mãos, e quanto melhor o conhecimento sobre a forma funcional da produção, melhor pode ser a análise das informações extraídas dos modelos. Um artigo referência na área sobre universidades federais é Façanha, Resende e Marinho (1997), esse link não apresenta o pdf, mas é possível pegar as referências. Nesse artigo eles encontraram que a UFRJ é eficiente por exemplo. Corbucci (2000) traz mais de uma dezena de indicadores de produtividades das universidades. Vários outros trabalhos revisitam esse tema de uma ou outra maneira. Há até um estudo sobre eficiência em Portugal de Afonso, e Afonso e Aubyn (2005) que realizam uma cross-country

Não faltam estudos nessa área, e muitos rankings de eficiência foram e ainda serão traçados para se compreender o ensino superior. O modelo simples aí acima não permite traçar maiores conclusões. Sabemos que USP e Unicamp são muito boas, mas quem sabe elas não poderiam ter resultados maiores em alunos-ano? Ou então um orçamento mais enxuto. Há muitas variáveis que não estamos captando em termos de pós-graduação e talvez USP e Unicamp não sejam tão comparáveis assim.

É isso, mais detalhes, escrevam nos comentários ou me peçam por mais referências.  
  


terça-feira, 27 de setembro de 2011

Greves e Inflações

Uma onda de greves toma conta do país: greve dos correios, dos bancários, dos professores, operários da construção civil nos estádios, do judiciário e por aí vai... O que esses diferentes eventos têm em comum? 

- Um inimigo silencioso e velho conhecido: "a inflação". A inflação lentamente corrói o valor do salário real, que pode ser escrito como: w = W/P. Em que W é o salário nominal dos trabalhadores e P, o nível geral de preços de uma dada cesta de bens. A variável com que todos os trabalhadores se importam não é o valor do salário nominal em si, mas sim o valor das coisas que o salário pode comprar (W/P). E o salário das famílias está podendo comprar cada vez menos, aos poucos os trabalhadores se dão conta de que o orçamento não chega ao fim do mês, e as contas estão difíceis de serem mantidas. E então, vão às portas da gerência, dos governos e às ruas reivindicar correções salariais. Nada mais justo, os trabalhadores são os que mais sofrem com a inflação. Sob quem recai a culpa da inflação?

- A culpa se sobressai em meio a uma política monetária de macroeconomia irresponsável. Não digo da queda recente das taxas de juros e nem da subida do câmbio que são movimentos pelos quais até os mais ortodoxos de nossos economistas torciam. Apesar dos esforços malogrados do Bresser-Pereira para pintar os novo-desenvolvimentistas como seres iluminados, todo economista no Brasil sabe que nosso câmbio estava (está) sobrevalorizado e que nossas taxas de juros são repressoras. O problema é achar que se resolve as coisas com medidas que não levem em conta as condições ideais. Esse recrudescimento da inflação era esperado e tem sido deixado de lado pela equipe macroeconomica, apesar das palavras duras mas vazias da presidente afirmando sempre que possível o contrário, que não daria trégua para inflação.

Pois bem, a inflação aí está. Fica como tarefa a nós economistas tentarmos estudar essa relação causal entre inflação e o surgimento das greves, e também cobrar a responsabilidade da política monetária. Todos nós queremos redução dos juros, vários diagnósticos apontam isso, mas infelizmente monetaristas tem de entender sempre que o lado monetário vem à reboque e não antes (ou deveria ser assim, afirmação do campo normativo). Mais frouxidão monetária só significa mais inflação, as correções saláriais virão, com o nível de aquecimento atual da demanda e a capacidade produtiva mais próxima do limite, essas correções serão mais lenha na fogueira inflacionária. A única solucão pra que de fato isso não aconteça é arriscarmos um arrefecimento forte da nossa economia, uma aposta muito arriscada que nossa autoridade monetária têm feito.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Artigo Sobre Custos Pós e Pré operatório da cirurgia Bariátrica

Amigos, ano passado, comecei a trabalhar em um banco de dados interessante com informações de pacientes operados em cirurgia bariátrica pela UNIMED-BH, uma rede bem grande de pacientes. Esse banco deriva da tese de dissertação da amiga Silvana B. Kelles. E sua tese derivou em dois principais artigos, um aprovado na revista médica especializada, a Obesity Surgery (em 2009) e outra versão no São Paulo Medical Journal, que ainda será publicado.

Essa versão do artigo do SPMJ é uma que eu comecei a trabalhar ano passado. Silvana e os demais autores, Sandhi Barreto e Leonardo Guerra, compararam dados de custo antes e depois da cirurgia bariátrica, estudando os efeitos de co-morbidades e variáveis de características pessoais.

No segundo semestre de 2011, eu e Silvana fizemos um trabalho no curso de Análise de Dados Longitudinais do prof. Enrico Colosimo do departamento de estatística da UFMG. O trabalho final envolveu trabalhar longitudinalmente o banco de dados de pacientes submetidos à cirurgia Bariátrica. Em Junho desse ano o apresentamos em poster no Congresso Internacional em Tecnologia da Saúde, em inglês Health Technology Assessment international (HTAi). Agora estamos trabalhando em uma versão para a revista Brasileira de Economia da Saúde.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Sobre Testes de Desempenho na Educação

Olá pessoal, reportagem muito interessante sobre o campo educacional. Creio que oes economistas da educação e nós da área quantitativa temos de estar atento a essas questões. Medições nem sempre são coisas triviais. Mas o importante é não deixar de se usar os exames. Estou trabalhando em coloboração de colegas em índices de desempenho que em grande parte estão preocupados com a questão da inequidade do sistema.

Fiquem com a matéria muito interessante:



segunda-feira, 29 de agosto de 2011

As Mulheres vão acabar..."Oh meu Deus, nããããããão"


A Revista The Economist publicou em seu blog um interessante exercício sobre quanto tempo levaria para a população de diversos países acabar por completo. O exercício é interessante porque vários países que já passaram pela transição demográfica (veja matéria da National Geographic que falou especificamente do caso de transição brasileiro) estão vivendo taxas de reposição menores do que 1. Ou seja, como aponta a nota curta do blog da revista, para Hong Kong, de cada 1000 mulheres, nascem 547 filhas, quase metade das mulheres. É uma taxa de reprodução líquida de apenas 0.547, o que é extremamente baixo.

Mantidas essas taxas, a população tende a diminuir e, caso sejam persistentes, até desaparecer. Falta muito tempo pra isso ocorrer. Em Hong Kong (que tem uma das taxas mais baixas) isso aconteceria lá para daqui a 1500 anos. No caso do Brasil, como temos uma grande população isso só correria daqui a 3 milênios.

Enfim, muito tempo para isso, uma outra hipótese é que as populações diminuam e que saldos migratórios compensem regiões que tem uma taxa de reposição alta para as que possuem baixa. Os próprios países podem adotar algo como um mecanismo de compensação quando começar a faltar um nível ótimo de pessoas. Enfim, o exercício não é motivo para alarme. É mais uma curiosidade.

PS.: O Desenho da cena cada vez mais rara nos dias de hoje é do blog da colega Fê Dupin.

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Nota curta: a Fundação João Pinheiro em parceria com a Universidade Autônoma de Barcelona está organizando Seminário de Pobreza, Desigualdade e Desempenho Educacional. Hoje tivemos mesas interessantes e até fiz uma reportagem curta para radio CBN-BH, foi bem rápida a matéria e fui pego meio que de surpresa. Mas em breve comento mais sobre esse evento.

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Demografia na Revista Science

Na semana passada, a conceituada revista Science produziu uma edição especial sobre demografia convidando vários especialistas para falar dos avanços na área e sob uma perspectiva mais ampla de um quadro geral sobre as mudanças nas últimas décadas. Dos anos 60 e 70 pra cá, o mundo evoluiu de uma situação na qual os neomalthusianos dos anos 70 acreditavam que fatalmente ocorreria uma explosão demográfica com consequências negativas, na qual destacavam principalmente a fome, para uma situação em que vários países em desenvolvimento (dentre eles o Brasil) se encontram em estágio já bastante avançado de transição demográfica. Estágio, no qual a mortalidade caiu para patamares mais baixos e a fecundidade teve tempo de acompanhar a queda da mortalidade produzindo agora um crescimento populacional baixo.

Infelizmente, grande parte do material é restrito. Do material free para leitura, destaco o artigo-chave "Doom or Vroom" que apresenta em mais detalhes os argumentos que tentei expor no parágrafo acima. Também são muito interessantes (e de livre acesso) os vídeos com os casos especiais de Machako-África e de Matlab (isso mesmo, não é a linguagem para programar matemática no computador, mas sim uma comunidade em Bangladesh). David Malakoff (video 1) apresenta o primeiro caso que ajuda a mostrar que não necessariamente um aumento populacional provoca prejuízos ambientais e prejuízos no bem-estar. Ele apresenta um caso de uma comunidade Africana na qual tudo parecia predizer um aumento das erosões e prejuízos ambientais na agricultura à medida que a população crescesse, para surpresa dos pesquisadores, isso não ocorreu, aconteceu o contrario!

O segundo (video 2) é apresentado por Joceyln Kaiser e tem como mote a pergunta de se o planejamento familiar ajuda ou não a reduzir o estoque populacional. A questão é importante porque existe um intenso debate pró e contra o planejamento familiar, economistas costumam a afirmar que o desenvolvimento econômico e educacional (veja o artigo de Lant Prichett que foi mencionado) é o principal motor para a redução e controle do número de filhos pelas mulheres (mais propriamente pelos casais), demógrafos afirmam que um controle familiar, acesso a contraceptivos e outras variáveis ambientais que podem ser alteradas pela política populacional, podem sim auxiliar a redução do número de filhos não planejados. Joceyln apresenta um estudo de caso muito interessante em Matlab na qual a distribuição de contraceptivos ajudou bastante na queda das taxas de fecundidade naquela comunidade. Como resultado final, Joceyln ressalta que hoje os fatores motrizes da redução da fecundidade não são mais postos em confronto, mas sim como fatores justapostos. Enfim, não é só educação das mães, mas também não somente um planejamento familiar e distribuição de contraceptivos, vários fatores contribuem em conjunto.

Finalizando, o último recurso que o internauta sem login pode acessar é um podcast de 47 minutos que é uma verdadeira aula de demografia com aspectos atuais e gerais sobre a população mundial. Três demógrafos são entrevistados: David Bloom apresenta os conceitos gerais da Transição demográfica, Mara Hvistendahl fala sobre o envelhecimento populacional e a importância de se mirar ainda a população mais jovem para saber as consequências populacionais. O terceiro entrevistado, Jean-Pierre Bocquet-Appel, relata sua interessante pesquisa sobre a Transição Demográfica do período neolítico. A entrevista do editor da Science, David Grimm, finaliza o podcast contando as diferenças no cérebros de humanos e chipanzés causada pelo envelhecimento indo até a idade da Terra e buracos negros.

Uma coisa que me impressionou é de como o acesso à Science é caro, cada artigo custa 15 dólares para ser acessado na internet. A assinatura para estudantes norte-americanos é de $75, e para estrangeiros de fora da América do Norte o valor salta para impressionantes $160. Curiosamente, nas lojas eletronicas como a Barnes & Noble ou na amazon.com a assinatura impressa de um ano é apenas $19,95 (não consegui ver se a assinatura e esse preço se aplicam para fora dos EUA) Estou tentando ver como comprar essa edição específica da Science.

Para ilustrar esse post fiz quatro pirâmides demográficas com dados do censo (incluindo o de 2010) para a população brasileira.

A Transição Demográfica contada pelas pirâmides-etárias do Brasil, 1980-2010.

Links deste post:


quinta-feira, 14 de julho de 2011

O Mistério dos Benefícios Perdidos

Um dos textos must-read mais mencionados na área de Avaliação de Programas Sociais é o artigo do professor Martin Ravallion do Banco Mundial: "The Mystery of Vanishing Benefits: Ms Speedy Analyst's introduction to Evaluation". O texto conta as peripécias da senhorita Speedy Analyst, uma aluna recém-formada que acabou de entrar no ministério da fazenda. A história se passa em um país fictício, LABAS e o secretário-chefe de Speedy planeja avaliar um programa de Transferência de Renda Condicionada e passa essa tarefa a promissora Srta. Speedy.

Em 2009, aqui na Fundação João Pinheiro, tomei a frente de uma matéria denominada "Avaliação Social de Projetos". Essa matéria tinha sido reformatada e sua roupagem estava a par com o que de mais novo era ensinado na área. Havia portanto uma demanda por textos didáticos em português (apesar de haver muitos artigos em avaliação de políticas públicas, há muito poucos textos didáticos em português nessa área, e olha que o texto do Ravallion no WBER já tem mais de 10 anos). Conto um pouco da história em uma curta nota inicial da tradução.

Pensei até em fazer uma versão com gravuras e cartuns, mas não teria tempo para transformar e adaptar o texto. Estou disponibilizando o texto em PDF:

O Mistério dos Benefícios Perdidos - Tradução.

Link da publicação original em inglês:

world.bank

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Seminário Internacional: Novos desafios em População e Desenvolvimento





No início da próxima semana o cedeplar estará organizando um Painel da IUSSP sobre novos desafios populacionais. O evento conta com a participação de diversos paletrantes internacionais que tratarão das grandes questões da transição demográfica.



Mais detalhes no site do CEDEPLAR.


O artista da Caricatura do Prof. Zé Alberto é o José Elias Silva Neto. O blog dele está no link do nome, e a caricatura do professor aparece aqui.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

And the REAL soars


De acordo com a teoria da Paridade do Poder de Compra (PPC), o preço de mercadorias transacionáveis com o restante do mundo, a uma mesma cotação, deveria custar o mesmo preço. Os teóricos defendem que isso ocorreria por conta dos países onde o preço é mais caro terem incentivos a importar dos países de onde o preço é mais barato, e vice versa. Curiosamente, tendo por base preços de commodities, isso parece bem ser verdade.

Entretanto, para os outros bens, muitas vezes têm-se a impressão de que o câmbio está valorizado demais (sobrevalorizado) ou desvalorizado demais (subvalorizado). A sobrevalorização prejudica exportadores e facilita importar de outros países. A subvalorização auxilia as exportações e vendas do comércio externo, mas prejudica os preços importados.

Como o julgamento sobre o câmbio estar sobrevalorizado ou subvalorizado depende de um referencial, a revista The Economist adotou o hambúrguer Big-Mac do Mc Donald’s ® como uma mercadoria de referência. Esse índice tira por base a grande presença mundial da cadeia de restaurantes fast-food e a forte padronização de suas franquias que, em tese, devem vender o mesmo hambúrguer no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo.
Nessa tabela acima não aparece o Brasil, mas olhem como o Real está sobrevalorizado segundo o mais novo Big-Mac index da The Economist:

terça-feira, 10 de maio de 2011

Mais Sobre Educação: "Caminhos Para Melhorar o Aprendizado"

Recentemente saiu pelo movimento "Todos Pela Educação", em parceria com o Instituto Ayrton Senna, um estudo chamado de "Caminhos para melhorar o Aprendizado". Trata-se de um Meta-estudo coordenado pelo pesquisador Ricardo Paes de Barros em cooperação com diversas universidades e institutos de pesquisa. Esse estudo resumiu contribuições científicas de 165 estudos acadêmicos que atendiam critérios específicos para serem analisados. Dentre esses, 25 estudos eram sobre a realidade educacional brasileira.


No site "Caminhos Para Melhorar o Aprendizado", são apresentados 25 características resumidas em cinco grandes temas:



  1. Recursos da escola.


  2. Plano e práticas pedagógicas.


  3. Gestão da escola.


  4. Gestão da rede de ensino.


  5. Condições das famílias.

Também interessante o especial do Jornal Nacional sobre educação que começou essa semana. Dicas á conferir que mostram o que já sabemos sobre o assunto e como tentar avançar.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Economia Além do Cuspe e Giz

Caros alunos e eventuais leitores,


ou seria melhor: "Caros leitores e eventuais alunos", nesse domingo do primeiro de Maio o Jornal Estado de Minas, publicou matéria sobre algumas técnicas de ensino que tenho utilizado nas aulas de macroeconomia do cusrso de Administração Pública da Fundação João Pinheiro. Eu já tenho postado algumas informações sobre essas técnicas aqui no blog. Considero que agora o curso está montado de uma maneira bem clara e elucidativa para o aluno e tem a vantagem de basear-se em uma série de conceitos econômicos aplicados à sala de aula.


Creio que em breve poderei tecer aqui comentários mais demorados. Fiquem com a matéria, reproduzida no clipping da Fundação (cique na imagem para ampliar):



No mesmo dia apareceu matéria muito interessante do colega de Fundação: Mario Rodarte (agora professor na UFMG) falando de uma possível hipótese da saída de mulheres da população econômicamente ativa (PEA) para se dedicarem exclusivamente à educação dos filhos. Um avanço propiciado pela maior renda ou um retrocesso visto pelo ponto de vista das conquistas de direitos já alcançadas pelas mulheres no mercado de trabalho?


(clique para ampliar)




domingo, 24 de abril de 2011

Glossário de Termos de Avaliação de Políticas Públicas

Na última semana ministrei dois cursos na Universidade Federal de Viçosa (UFV). Fui à convite da profa. Suely Ramos do depto de Administração. Foi uma experiência extremamente positiva, tanto pelo empenho dos alunos quanto pela receptividade de todos. Um dos cursos, o mini-curso de Marco-Lógico, foi ministrado pela 5ª vez, no que pude colher boas experiências.

Desde o momento em que comecei a disciplina de Avaliação Social de Projetos no curso de graduação de administração pública da Fundação João Pinheiro, senti uma necessidade de um dicionário de termos específicos para aquela disciplina. Isso porque os alunos eram rapidamente inseridos no contexto específico da avaliação de programas e ficavam perdidos, essa área possui um jargão muito próprio. Necessitavam entender rapidamente o que estava sendo dito. Comecei, então, a elaborar uma versão incipiente deste glossário.

Nesse meio tempo, durante um workshop de avaliação de políticas públicas patrocinado pelo FEEI - Fondo Español de Evaluación de Impacto e organizado pelo Banco Mundial, conheci o dicionário da Christel Vermeersch, economista headchief do BM. O dicionário dela mostrou que ter um apanhado de termos para os iniciantes era uma boa idéia identificada por muitos. Pude então me sentir estimulado a dar continuidade ao término do dicionário.

Antes então da 5ª edição do curso, finalizei o dicionário. O resultado pode ser ainda refinado, sendo que conto com a sugestão de colegas da área. Aproveito a oportunidade para divulgar o apoio que tive nas edições anteriores. Aproveitei a oportunidade para fazer o upload de versões recentes das aulas. Agradeço à FEE - Fundação de Economia e Estatística do RS, à sefaz-RS, que apoiaram os empreendimentos iniciais nos seminários de Avaliação da Qualidade do Gasto. Ao pessoal da Rede Brasileira de Monitoramento e Avaliação e ao Banco do Nordeste que organizou a segunda edição do seminário da rede, à Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, ao BDMG - Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais, que me deu oportunidade de formatar a quarta versão do curso para seu quadro técnico de diretores. E finalmente ao dpto de Administração da UFV, que possibilitou o formato atual.

Um detalhe, em breve, divulgarei aqui a tradução que fiz para o famoso texto do prof. Martin Ravallion "The Mystery of Vanishing Benefits". Também no intuito de divulgar essa cultura de avaliação para iniciantes.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Encontro da Blogosfera Econômica Brasileira

Dizem, que se reunirmos 10 economistas, teremos 11 opiniões distintas. E se além de economistas eles forem também blogueiros?

quinta-feira, 10 de março de 2011

Algumas Dicas de Links

Aos alunos de Macroeconomia, segue dica de alguns links interessentes.

O primeiro deles são conceitos de contas nacionais elaborados pelo datagerais de Minas Gerais:

1. http://www.datagerais.mg.gov.br/site/int_glossario.php

A segunda dica é um sistema de banco de dados do Banco Mundial que me foi muito útil há algumas semanas atrás (Muito útil para pegar informações do mundo inteiro):

2. http://databank.worldbank.org/ddp/home.do?Step=1&id=4

O terceiro, o sempre útil e relevante boletim do Banco Central, para vermos algumas contas do Balanço de Pagamentos brasileiro:

3. http://www.bcb.gov.br/?BOLETIM

Bons estudos!

quarta-feira, 9 de março de 2011

Economia e Meio Ambiente

A questão ambiental deve estar também dentro do compromisso ético dos economistas. O vídeo abaixo "A História das Coisas" aproveita uma versão simplificada de um sistema exploração, produção e descarte.



O vídeo simplifica bem algumas questões, mas é bastante relevante e deve ser considerado por todos nós preocupados com o uso consciente dos recursos. De primeira mão, a apresentadora e pesquisadora Annie Leonard usa alguns conceitos importantes, um deles o de externalidades. No momento em que menciona um rádio que custa US$ 4,99 se pergunta: "Como U$ 4,99 podem refletir o custo da produção e transporte desse radio até ele chegar em minhas mãos?"

O preço do rádio é assustadoramente barato. Existe uma parte do argumento da autora que está impreciso e a outra parte é correta. A parte imprecisa é que a apresentadora chega a conclusão que o preço de 4,99 não paga nem o custo do rádio estar exposto na prateleira. Bom, tecnicamente, um único produto não precisa fazer isso, porque supermercados trabalham com elasticidades cruzadas. Saindo do economês, o radinho de pilha que você compra barato em promoção é um chamariz para comprar outros produtos que compensam o fato daquele radinho estar lá, a pilha pode ser um deles.

A parte correta: a produção do radinho de pilha de fato deixa de pagar muitos custos de produção não contabilizados, as externalidades dos custos. Externalidades são custos não apropriados (e não pagos) por ninguém, mas que cobram o preço ambiental em termos de qualidade de vida das pessoas envolvidas na produção, assim como aquelas não diretamente envolvidas. Suponhamos que o rádio foi transportado por um caminhão que joga muita fumaça fora. Essa poluição não foi contabilizada por ninguém. Na verdade, há uma série de outras externalidades até mais importantes que essa. A apresentadora parece incluir "o trabalho das crianças do Congo" como uma dessas externalidades, mas não creio que essa possa ser considerada stricto senso como uma. Há, no entanto, a questão moral para melhorar esse quadro em que crianças e adolescentes trabalham. A competição por oferta de trabalho em melhores condições deve ser orientada, ou seja, a exploração do trabalho se combate com direitos trabalhistas e mais desenvolvimento econômico e material. É possível requisitar também uma abordagem ética do lado empresarial.

Outro ponto econômico importante do vídeo: a seta dourada do consumo. Alguns economistas realmente parecem viver em função daquela seta, mas nem todos pensam assim. Eu diria que o Keynesianismo de uns 20 anos atrás, que para manter a economia girando, estimulava o consumo a qualquer preço, cobra nos dias de hoje o seu preço, uma sociedade atulhada de bens de consumo descartáveis. O consumo deve ser sim eficiente, e o consumo pelo consumo, para estimular os ânimos das pessoas, tal como pregava a economia keynesiana mais ortodoxa, só adia os problemas devido ao uso ineficiente de recursos.

O vídeo usa um exemplo de uma decisão equivocada do governo Bush ao incentivar as compras pós 11 de Setembro. O governo Obama, ao salvar a GM, continua tomando as mesmas medidas Keynesianas e equivocadas. Por que salvar a produção (e o consumo) de carros não eficientes e não friendly ao meio ambiente? Aliás, é isso o que fazem os governos pelo mundo afora, é isso o que se fez no Brasil com a redução do IPI. Nesse ponto estou de pleno acordo com o vídeo de que os governos passaram a engraxar os sapatos das grandes coorporações.

A questão dos resíduos: a estatística de que apenas 1% do que é produzido não é consumido em menos de seis meses me pareceu surreal. Como economista sei das gigantescas dificuldades em se fazer essa conta. Mas não sei como essa conta em particular foi feita. Não me impressiona que a maior parte do consumo se exaure em menos de seis meses. Em primeiro lugar, uma economia de serviços, por definição, é uma economia onde não se consegue contabilizar isso. O serviço é um consumo imediato. Outros produtos, agrícolas e demais perecíveis, que compõem uma parcela expressiva do produto de muitos países também se exaure rapidamente. Enfim, aquele porcentual referido só seria muito maior caso tivessemos uma economia com parcela expressiva de bens duráveis. No entanto, sei que ainda assim a conta seria muito difícil, pois uma boa parcela de bens duráveis é na verdade contabilizada como consumo. Ou seja, se "você" consumidor compra um computador novinho, não importa se você cuida bem dele e consegue ele fazer durar 6 anos, ou se você é desleixado usuário e o destrói em menos de 6 meses, para as contas nacionais aquele computador "some" (é consumido) a partir do momento em que sai da loja.

Ao cabo, apesar de não concordar com tudo, achei o vídeo extremamente relevante. Não tenho o que dizer sobre a questão das toxinas, isso ultrapassa o meu conhecimento, mas sei também que ambientalistas costumam a ser alarmistas nesses pontos. Para concluir, pontuo que a questão ética-ambiental é extremamente importante e tenho a percepção de que os economistas podem ajudar muito na economicidade dos processos e nas contabilidades corretas das externalidades envolvidas na produção e no desgaste do meio ambiente.